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Passo doble
* Por Evelyne Furtado
Ele aparece do nada e você que não é toureira encontra-se desprevenida. Não dá tempo para correr? Então use a capa que tiver à mão ou ao corpo e enfrente o touro.
* Por Evelyne Furtado
Ele aparece do nada e você que não é toureira encontra-se desprevenida. Não dá tempo para correr? Então use a capa que tiver à mão ou ao corpo e enfrente o touro.
O vestido vermelho lhe servirá de capa. Um frio lhe subirá pela espinha. Seu estômago dará cambalhotas. A boca ficará seca. E a cabeça rodará como se você estivesse de porre.
Se quiser desistir posso voltar. Tentarei escrever outra coisa. Mas o touro aproxima-se. Não dá mais para correr.
A sensação é de irrealidade, mas o touro é de verdade. Ainda poderá usar a capa vermelha, mas com a sua falta de habilidade os chifres do touro vão fazer dela uma manchinha vermelha voando por ai.
Se quiser desistir posso voltar. Tentarei escrever outra coisa. Mas o touro aproxima-se. Não dá mais para correr.
A sensação é de irrealidade, mas o touro é de verdade. Ainda poderá usar a capa vermelha, mas com a sua falta de habilidade os chifres do touro vão fazer dela uma manchinha vermelha voando por ai.
Você talvez não resista a uma performance, então esboce uns floreios, mas vá se preparando para ficar mais indefesa a partir de então.
O touro e você na arena. Adrenalina, cortisol e mais hormônios que não me cabe agora elencar. Pegue-o à unha e vá. Será uma experiência importante. De tão impactante que lhe dará, ao final, a impressão de que você não saberá mais andar. Você sentirá, mas não saberá dizer o que sente. Desejará sobreviver e como quem está escrevendo sou eu garanto que conseguirá.
A salvo você ainda se sentirá meio tonta. Algumas verdades serão desfeitas; suas crenças serão abaladas, seus limites estarão bem visíveis.
O touro foi pego à unha e você sobreviveu às suas arremetidas. Seu mundo mudou de eixo, mas ainda está em movimento. Ficarão pedaços de touro embaixo da unha, como a lembrar de que não foi sonho. O vestido, que foi capa, será substituído. A vida continuará, porém não como antes. Essa dança lhe deixará marcas que lhe ajudarão a continuar.
• Poetisa e cronista de Natal/RN
Me lembrei de uma marchinha de carnaval composta por Braguinha-Alberto Ribeiro, em 1937:
ResponderExcluir"...Eu conheci uma espanhola
Natural da Catalunha
Queria que eu tocasse castanhola
E pegasse o touro à unha
Caramba..
Caracoles. . .
Sou do samba
Não me amoles
Pro Brasil eu vou fugir
Que isto é conversa mole
Para boi dormir..."
Gostei, Evelyne!
Beijos
Muito interessante o tom fabular deste seu texto, Evelyne. Inteligência e sensibilidade retratando as tantas touradas da vida. Olé!
ResponderExcluirObrigada, João!
ResponderExcluirSão muitas, Marcelo.
Obrigada e bjs.
Seria ótimo sermos os escritores reais (sei que podemos ser os maestros parciais), das nossas vidas. Seria bom poder mudar um momento desagradável com um toque. A sua sutileza na luta nossa de todos os dias, em que matamos onças, leões e touros, ficou um show. Doçura até na violência. Muito bem, Evelyne.
ResponderExcluirInsisto no doce, Mara! Beijos e obrigada.
ResponderExcluirAcontecimento marcante que deixou marcas para sempre, Evelyne? que bom!
ResponderExcluirBeijos