quinta-feira, 5 de agosto de 2010




Farra no Oeste

* Por Fernando Yanmar Narciso



Responda rápido: Como pode ser possível parodiar um gênero cinematográfico que, por si só, já é um tipo de paródia de outro gênero? Eis a resposta.
Perto do final dos anos 60, a onda dos faroestes lúgubres e cheios de sangue dos italianos foi virado de ponta- cabeça. Os anti- heróis caladões, com mira indefectível e de moral quase sempre questionável ainda existiam, mas em um contexto diferente.
A temática a la tragédia grega foi lentamente abrindo espaço para a comédia sutil e a auto- paródia do gênero, tal qual a intenção original de Sergio Leone com seus filmes. A palavra de ordem agora era: Exagerar como se não houvesse amanhã.
Dirigido por Gianfranco Parolini – usando o pseudônimo Frank Kramer –, Sabata, de 1969, é uma quase comédia do tipo que se ama ou odeia. Ela começa com Sabata, interpretado pelo eterno vilão de westerns Lee Van Cleef – o homem com olhos e nariz de águia – em seu primeiro papel de protagonista, trajando suas clássicas vestes negras e com um permanente sorriso cínico, chegando à cidadezinha de Dougherty. Logo ele faz amizade com Carrincha, o gordo bebum e barulhento local, dono da gargalhada mais esganiçada já registrada em fita. Coincidentemente à chegada de Cleef, um bando de assaltantes executa um engenhoso assalto ao banco da cidade, levando um cofre contendo 100.000 dólares. Sabata descobre que é tudo parte de um plano dos mandantes da cidade para comprá-la e demolir para a construção de uma ferrovia. Sabata ameaça contar tudo aos moradores, a menos que os políticos lhe paguem uma quantia absurda de dinheiro que só vai aumentando conforme a tensão entre eles aumenta. Eles contratam um monte de assassinos para tentar segurar Sabata, mas como ele é Lee Van Cleef, não tem pra ninguém.
A graça desse filme vem de sua pletora de personagens simplesmente impossíveis de terem existido no velho Oeste. Stengel, o líder político da cidade, é bastante afrescalhado e usa um cabelo penteado na horizontal pra disfarçar a careca- coisa que suspeito não ter existido naqueles tempos. Carrincha é um exímio atirador de facas, melhor que os mágicos de circo, e tem um companheiro índio que é trapezista, capaz de saltar todos os telhados da cidade em um minuto. De fazer inveja a qualquer ninja! Mas, com toda a certeza, o personagem que se destaca dos demais é Banjo, antigo comparsa de Sabata, o primeiro pistoleiro hippie da história. Interpretado pelo austríaco William Berger, figurinha carimbada dos faroestes Spaghetti, ele leva todo mundo na conversa com sua fala mansa, e sempre aparece tocando seu inseparável banjo.
A outra fonte de gargalhadas do filme são os sarros tirados dos tiroteios, que sempre foram marca-registrada dos faroestes macarrônicos. Nenhuma arma dos atores principais é feita pra ser levada a sério. Nesse Oeste nada ortodoxo, uma maleta cheia de areia – e dinheiro! – torna-se um eficiente colete à prova de balas. A arma favorita de Sabata é uma pistolinha de bolso com QUATRO canos- e ainda mais TRÊS escondidos na coronha – que não importa a distância que ele esteja, sempre acerta o alvo. Ele também leva um rifle Winchester de cano prolongado que o deixa quase do tamanho dele, que Sabata usa para matar bandidos a um quilômetro de distância! Mas a melhor arma é disparada a do Banjo. Virando o instrumento de trás para frente, existe um rifle Winchester escondido dentro dele, com uma alavanca saindo pra fora que serve tanto de carregador como gatilho. Muito engenhoso!
Claro que, em meio a tantas sandices, alguma parte acabaria sofrendo. Como qualquer faroeste italiano que se preze, as falas aqui são a coisa menos importante da obra, e, apesar de fazer muitos amigos, Sabata tem a obrigação de carregar o filme inteiro nas costas, fardo esse que nem todo seu carisma consegue segurar homogeneamente em suas quase duas horas de duração.
No mais, este é considerado por muitos como um dos melhores exemplares do gênero. Recomendo para todo mundo sedento por uma válvula de escape dessa vidinha monótona e para aqueles que não fazem muita questão de entender a história.


* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

Um comentário:

  1. Sei que não te influenciei, mas adoro bang-bang. Acabo aprendendo muito ao ler suas análises livres. Tão livres quanto balas de revólver.

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