

Califórnia Adeus (1977)
* Por Fernando Yanmar Narciso
* Por Fernando Yanmar Narciso
No final dos anos 70 ninguém queria mais saber de faroestes na Europa. Os poucos filmes do gênero feitos de 75 a 79 tinham um apelo mais melancólico, sombrio e sanguinolento que os filmes da era de ouro do gênero, como se estivessem anunciando o fim do ciclo. A maioria era de verdadeiras bombas, mas um pequeno grupo – ao qual esse filme aqui pertence – ainda tinha algo a oferecer. Sempre foi comum aos americanos ficar do lado dos vencedores e desprezar o outro lado da moeda. Mas aos italianos, não. Todos os filmes sobre a Guerra Civil americana feitos durante o boom dos Spaghetti Westerns, a exceção de Django e de mais uns três, ficam do lado do Sul, dos derrotados.
Dirigido pelo pouco reverenciado Michele Lupo e estrelado por Giuliano Gemma – o ator menos parecido com um cowboy que eu já vi –, esse filme acompanha as andanças de um soldado sulista depois que a guerra acabou. Solitário, desolado e sem ter onde cair morto, ele é um fantasma vagando pelo cenário. Parece ter sido um monstro tão horrível na guerra que sequer deseja lembrar o próprio nome, usando dois pseudônimos durante o filme - Califórnia e Michael Random, que ele viu numa caixa de tabaco. Tudo, dos cenários ao figurino dos personagens, tem um ar de decadência tal que quase dá pra sentir o cheiro de mofo ultrapassando a barreira da tela. Não se sabe se os cenários foram feitos assim de propósito ou se eram os únicos disponíveis no estúdio à beira da falência. Cidades abandonadas, celeiros caindo aos pedaços, fazendas decadentes, esse é o mundo onde Gemma, uma mera alma errante, existe. Até o majestoso deserto de Almeria, onde 9 entre 10 Spaghettis foram gravados, parece uma pedreira minúscula no filme.
Em sua viagem rumo ao nada, Califórnia fica conhecendo Willie, outro soldado sulista chato de doer, que segue Gemma como um cachorro sem dono, falando de sua fazenda e de sua família, em especial da irmã dele. Ambos passam por momentos embaraçosos pelo caminho, como pular na lama atrás de sapos para comer, têm pedidos de carona recusados por todos, dormem num celeiro abandonado junto a outros ex- combatentes... Mas o pior ainda estaria por vir. Um grupo de mercenários nortistas vem emboscando sulistas que tenham cometido algum crime de guerra e matando por recompensa. Por onde o grupo passa, a morte os acompanha.
Não é um mundo pra qualquer um, concordam? Em todo lugar que olhamos, há miséria e decadência. Giuliano Gemma aparece aqui em seu melhor papel. Sua aparência e estilo remetem aos Djangos e pistoleiros sem nome, em contraponto aos outros cowboys bem alinhados que interpretara quando mais jovem. Não perde a chance de dar golpes baixos em brigas, chegando ao ponto de matar um capanga batendo uma tábua cheia de pregos contra o coração dele, tudo regado a muito sangue jorrado em câmera lenta.
Só tem duas coisas que estragam um pouco o filme. Uma é a trilha sonora. Não sei quanto a vocês, mas pelo menos a mim a combinação órgão de igreja+ batida discoteca não lembra muito o velho oeste. Outro probleminha é que o filme é muito curto pra desenvolver a história por completo. O final – que eu não vou contar pra manter o suspense – pareceu-me corrido e descuidado. Talvez pelo estúdio estar em decadência ,o produtor pode não ter conseguido rolos de filme suficientes pra terminar o filme do jeito que queriam, ficou como se tivesse sido feito a toque de caixa. Talvez não. Mas de qualquer modo, eis um filme para aqueles dias deprês solitários. No meu caso, quase todo dia.
Dirigido pelo pouco reverenciado Michele Lupo e estrelado por Giuliano Gemma – o ator menos parecido com um cowboy que eu já vi –, esse filme acompanha as andanças de um soldado sulista depois que a guerra acabou. Solitário, desolado e sem ter onde cair morto, ele é um fantasma vagando pelo cenário. Parece ter sido um monstro tão horrível na guerra que sequer deseja lembrar o próprio nome, usando dois pseudônimos durante o filme - Califórnia e Michael Random, que ele viu numa caixa de tabaco. Tudo, dos cenários ao figurino dos personagens, tem um ar de decadência tal que quase dá pra sentir o cheiro de mofo ultrapassando a barreira da tela. Não se sabe se os cenários foram feitos assim de propósito ou se eram os únicos disponíveis no estúdio à beira da falência. Cidades abandonadas, celeiros caindo aos pedaços, fazendas decadentes, esse é o mundo onde Gemma, uma mera alma errante, existe. Até o majestoso deserto de Almeria, onde 9 entre 10 Spaghettis foram gravados, parece uma pedreira minúscula no filme.
Em sua viagem rumo ao nada, Califórnia fica conhecendo Willie, outro soldado sulista chato de doer, que segue Gemma como um cachorro sem dono, falando de sua fazenda e de sua família, em especial da irmã dele. Ambos passam por momentos embaraçosos pelo caminho, como pular na lama atrás de sapos para comer, têm pedidos de carona recusados por todos, dormem num celeiro abandonado junto a outros ex- combatentes... Mas o pior ainda estaria por vir. Um grupo de mercenários nortistas vem emboscando sulistas que tenham cometido algum crime de guerra e matando por recompensa. Por onde o grupo passa, a morte os acompanha.
Não é um mundo pra qualquer um, concordam? Em todo lugar que olhamos, há miséria e decadência. Giuliano Gemma aparece aqui em seu melhor papel. Sua aparência e estilo remetem aos Djangos e pistoleiros sem nome, em contraponto aos outros cowboys bem alinhados que interpretara quando mais jovem. Não perde a chance de dar golpes baixos em brigas, chegando ao ponto de matar um capanga batendo uma tábua cheia de pregos contra o coração dele, tudo regado a muito sangue jorrado em câmera lenta.
Só tem duas coisas que estragam um pouco o filme. Uma é a trilha sonora. Não sei quanto a vocês, mas pelo menos a mim a combinação órgão de igreja+ batida discoteca não lembra muito o velho oeste. Outro probleminha é que o filme é muito curto pra desenvolver a história por completo. O final – que eu não vou contar pra manter o suspense – pareceu-me corrido e descuidado. Talvez pelo estúdio estar em decadência ,o produtor pode não ter conseguido rolos de filme suficientes pra terminar o filme do jeito que queriam, ficou como se tivesse sido feito a toque de caixa. Talvez não. Mas de qualquer modo, eis um filme para aqueles dias deprês solitários. No meu caso, quase todo dia.
* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com
Mulher não costuma gostar muito de farwest, mas eu sempre gostei, desde menina e assiti a todos eles, ou quase. Esse também, e ainda assim acho bom ler a sua visão do fato.
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