terça-feira, 6 de julho de 2010




Trem fantasma*

** Por José Calvino de Andrade Lima

Sonhei com o trem da Gretueste
Passava na então estrada de
Ferro Norte
Hoje Avenida Norte.

Com o apito saudoso da
“Maria Fumaça” (partiste)
Soltava fumaça em desenho
Deixando pela linha afora
Um cheiro saudoso do
carvão-de-pedra

Desfilavam os postes com
seus fios telegráficos
Placas em vermelhos com
letras brancas:
P.N. apite e pare, olhe-escute.

A passagem de Nível
Os maquinistas são
obrigados a apitar
Pois o símbolo antecede um
cruzamento:
Estrada rodoviária com a de
ferro, no mesmo plano (chegaste)

Hoje o trem não passa
O trem que não esqueço
Do Brum ao Arraial,
Nas paisagens verdejantes da
Zona da Mata (passaste)

Quando em 52
Foi desativada a linha férrea
Ficou a estação do Arraial
Esquecida e abandonada

Fantasmagórica
Eu vejo o trem fantasma
A Maria Fumaça arrotando
faíscas de sua fornalha...
É a partida do último trem...

** Escritor, poeta e teatrólogo

*Folha de Pernambuco – 01/09/2004.
Extraído do livro: “Trem Fantasma"- p.49

3 comentários:

  1. O passado nos atropela através da lembranças - boas e más-, ou de um trem fantasma, que é mais assustador do que parece.

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  2. Que lindo poema, Calvino. Quando estive no Recife fiz questão de ir ao Museu do Trem (é este o nome?) revi aqueles carros alguns tão luxuosos, com poltronas, algumas janelas emoldurando cristais, nos trens em que viajou o imperador Dom Pedro II...Emoção demais pra quem viajava todos os dias de Socorro ao Recife, para estudar no colégio Carneiro Leão.

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  3. Obrigado Mara e Risomar!
    O Museu do Trem, no Recife, que continua num completo abandono. Segundo informações, seu acervo descrito foi cedido ao Banco do Brasil... Lá estão livros diversos, inclusive alguns de minha autoria, como O ferroviário, Trem Fantasma, Trem & Trens.
    Aguardem a série sobre a ferrovia.
    Abração do,
    José Calvino
    RecifeOlinda

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