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Sonhos mortos
Por Charles Marie Leconte de Lisle
Olha, amigo: este mar, que ora assim vês tão manso,
bateu, como um ariete, um dia, sem descanso,
os promontórios; foi aos saltos, em cachões,
escalando, subindo as rochas e sobre elas
estendeu, a bramir, no fragor das procelas,
o espumoso lençol dos negros vagalhões.
Agora o encrespa a fresca brisa matutina.
a beleza do sol as águas ilumina
e longe, em direção desse horizonte infindo,
onde passam, nadando, embarcações remotas,
vai-se da costa azul, o páramo cindindo,
em trêmula revoada, um bando de gaivotas...
Ali bóiam, porém, contornando os ilhéus,
destroços de náufragos, e esse que os escarcéus
assassinaram, vão, sob as ondas pesadas,
lívidos, a sangrar, de costas ou de bruços,
a boca aberta transbordante de soluções,
olhos vítreos, olhando as águas sossegadas.
Meu coração é como esse mar que, tranqüilo,
beija as praias agora em doce murmúrio.
Também chorou, rugiu como ele...Sem descanso
contra as rochas lançou-se em tremendos embates,
todo um dia cruel de insânia e de combates.
Vês? – Agora reflui apaziguado e manso;
sem desejo ou temor de nova tempestade,
à carícia do sol a voz mal se lhe escuta.
Mas o gênio, a esperança, a força, a mocidade,
ei-los mortos na espuma e no sangue da luta.
(Tradução de Ricardo Gonçalves).
Por Charles Marie Leconte de Lisle
Olha, amigo: este mar, que ora assim vês tão manso,
bateu, como um ariete, um dia, sem descanso,
os promontórios; foi aos saltos, em cachões,
escalando, subindo as rochas e sobre elas
estendeu, a bramir, no fragor das procelas,
o espumoso lençol dos negros vagalhões.
Agora o encrespa a fresca brisa matutina.
a beleza do sol as águas ilumina
e longe, em direção desse horizonte infindo,
onde passam, nadando, embarcações remotas,
vai-se da costa azul, o páramo cindindo,
em trêmula revoada, um bando de gaivotas...
Ali bóiam, porém, contornando os ilhéus,
destroços de náufragos, e esse que os escarcéus
assassinaram, vão, sob as ondas pesadas,
lívidos, a sangrar, de costas ou de bruços,
a boca aberta transbordante de soluções,
olhos vítreos, olhando as águas sossegadas.
Meu coração é como esse mar que, tranqüilo,
beija as praias agora em doce murmúrio.
Também chorou, rugiu como ele...Sem descanso
contra as rochas lançou-se em tremendos embates,
todo um dia cruel de insânia e de combates.
Vês? – Agora reflui apaziguado e manso;
sem desejo ou temor de nova tempestade,
à carícia do sol a voz mal se lhe escuta.
Mas o gênio, a esperança, a força, a mocidade,
ei-los mortos na espuma e no sangue da luta.
(Tradução de Ricardo Gonçalves).
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