

Não, filho, nosso time é maior do que tudo isso
* Por Renato Manjaterra
Grudado no alambrado meu filho perguntou: “Papai, ele não é da Ponte? Então por que você está xingando ele?
É difícil explicar filho, mas a gente não torce para o Rogerinho, nem para o Danilo, nem mesmo para o Aranha. A gente torce é para a Ponte. Você tem só quatro anos e gosta de seus ídolos: Aranha, Arroz, seu xará Leandrinho (putz!)... Reconhece-os na rua, faz o símbolo da sua torcida com os bracinhos, arranca um sorriso e um carinho na cabecinha. Mas eles NÃO SÃO a Ponte.
Nem o Sérgio Carnielli, aquele velhinho que às vezes fica lá em cima, na torre, nem mesmo o Pedro Vieira, aquele da música, são a Ponte Preta. Muito menos esses jogadores que o papai está xingando.
Você só tem quatro anos e há quatro anos é pontepretano, não é filho? Esse cara aí que está com a bola chegou aqui no mês passado. No próximo campeonato ele nem vai mais estar aqui. Ele está com a camisa da Ponte porque a Ponte paga quinze, vinte mil por mês para ele jogar.
Ele está perdendo para o Barueri e depois do jogo ele vai sair com os amigos para passear, sabia? (nem vou falar que amigos ou amigas e nem que passeio porque ele só tem quatro anos).
Meu filho entende rápido as coisas. Muito mais rápido do que o pai. Mas ele não vai entender ainda isso. Ele ainda vai pedir autógrafo, vai dar muito tapinha nas costas de nego que não está nem aí para ele.
Ele não entende que um jogador da Ponte pegue na bola e eu o mande ir embora! Ele não entende de futebol. Talvez ele precise jogar bola para perceber quando o cara quer ganhar e quando o cara quer só enrolar. Eu já não caio mais nessa. Quando o time sai do túnel eu já sei o que vai acontecer. Todo mundo no fundo sabe.
Mas ele está no campo, vivendo a sua “tarde de magia” e eu não vou estragar isso. A Ponte Preta para ele sou eu, e para mim a Ponte Preta é ele. Vamos para o meio da torcida que pula, filho? Vamos!
Vamos batucar um pouquinho, aprender uma música nova, sentir o Majestoso (enquanto é tempo). Vamos comer uma batata, um churros, conversar um pouco no intervalo – quem sabe no segundo tempo não volta o Sérgio Guedes?
Não volta... Volta o time do presidente. É com esse time que vamos voltar à primeira divisão. Meu filho não conheceu o Sérgio Guedes pessoalmente. Acho que vai falar nele como eu falo no “seo” Zé Duarte - à diferença que eu o levei até a Vila Belmiro no ano passado.
Hoje é tudo muito diferente. Não vejo o Aranha, daqui a trinta anos treinando nosso goleiro vice-campeão paulista, depois o Renato vindo nos salvar como Diretor de Futebol e trazendo o Elias para treinar o time. Não é à toa que o Carlão, o Dicá e até mesmo o Marco Aurélio ainda me valem um autógrafo. Do time que eu mesmo vi jogar uma final de Paulista, não tenho sequer uma lembrança.
Como disse Marx, a história se repete na primeira vez como farsa e na segunda como tragédia. Enquanto eu penso meu filho se diverte das arquibancadas. Que bom que ele ainda não entende de futebol. Pênalti para o Barueri. Vamos embora filho?
* Jornalista e escritor, webdesigner, colunista esportivo, pontepretano de quatro costados, autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com
* Por Renato Manjaterra
Grudado no alambrado meu filho perguntou: “Papai, ele não é da Ponte? Então por que você está xingando ele?
É difícil explicar filho, mas a gente não torce para o Rogerinho, nem para o Danilo, nem mesmo para o Aranha. A gente torce é para a Ponte. Você tem só quatro anos e gosta de seus ídolos: Aranha, Arroz, seu xará Leandrinho (putz!)... Reconhece-os na rua, faz o símbolo da sua torcida com os bracinhos, arranca um sorriso e um carinho na cabecinha. Mas eles NÃO SÃO a Ponte.
Nem o Sérgio Carnielli, aquele velhinho que às vezes fica lá em cima, na torre, nem mesmo o Pedro Vieira, aquele da música, são a Ponte Preta. Muito menos esses jogadores que o papai está xingando.
Você só tem quatro anos e há quatro anos é pontepretano, não é filho? Esse cara aí que está com a bola chegou aqui no mês passado. No próximo campeonato ele nem vai mais estar aqui. Ele está com a camisa da Ponte porque a Ponte paga quinze, vinte mil por mês para ele jogar.
Ele está perdendo para o Barueri e depois do jogo ele vai sair com os amigos para passear, sabia? (nem vou falar que amigos ou amigas e nem que passeio porque ele só tem quatro anos).
Meu filho entende rápido as coisas. Muito mais rápido do que o pai. Mas ele não vai entender ainda isso. Ele ainda vai pedir autógrafo, vai dar muito tapinha nas costas de nego que não está nem aí para ele.
Ele não entende que um jogador da Ponte pegue na bola e eu o mande ir embora! Ele não entende de futebol. Talvez ele precise jogar bola para perceber quando o cara quer ganhar e quando o cara quer só enrolar. Eu já não caio mais nessa. Quando o time sai do túnel eu já sei o que vai acontecer. Todo mundo no fundo sabe.
Mas ele está no campo, vivendo a sua “tarde de magia” e eu não vou estragar isso. A Ponte Preta para ele sou eu, e para mim a Ponte Preta é ele. Vamos para o meio da torcida que pula, filho? Vamos!
Vamos batucar um pouquinho, aprender uma música nova, sentir o Majestoso (enquanto é tempo). Vamos comer uma batata, um churros, conversar um pouco no intervalo – quem sabe no segundo tempo não volta o Sérgio Guedes?
Não volta... Volta o time do presidente. É com esse time que vamos voltar à primeira divisão. Meu filho não conheceu o Sérgio Guedes pessoalmente. Acho que vai falar nele como eu falo no “seo” Zé Duarte - à diferença que eu o levei até a Vila Belmiro no ano passado.
Hoje é tudo muito diferente. Não vejo o Aranha, daqui a trinta anos treinando nosso goleiro vice-campeão paulista, depois o Renato vindo nos salvar como Diretor de Futebol e trazendo o Elias para treinar o time. Não é à toa que o Carlão, o Dicá e até mesmo o Marco Aurélio ainda me valem um autógrafo. Do time que eu mesmo vi jogar uma final de Paulista, não tenho sequer uma lembrança.
Como disse Marx, a história se repete na primeira vez como farsa e na segunda como tragédia. Enquanto eu penso meu filho se diverte das arquibancadas. Que bom que ele ainda não entende de futebol. Pênalti para o Barueri. Vamos embora filho?
* Jornalista e escritor, webdesigner, colunista esportivo, pontepretano de quatro costados, autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com
Em uma ocasião meu filho ainda pequenininho
ResponderExcluirfoi ao Maraca com o pai pra assistir a uma decisão do Botafogo, depois ele me contou
todo feliz que o pai o deixou falar um palavrão
mas que era pra dar força pro jogador.
Hoje, embora fanático, ele ainda torce muito pelo
time, saudosista às vezes faz vista grossa.
Abraços
Duro é quando o menino muda e passa a torcer para o time edversário. É raro, principalmente quando começa cedo, mas possível. Já vi acontecer devido a essas famílias alternativas. Todos da nova família eram atleticanos e chega o novato cruzeirense, de camiseta do clube e tudo. Eu não pude acreditar quando vi no outro domingo o menino, então com uns dez anos de idade, com a camisa do Galo.
ResponderExcluirPoucas coisas me dão o orgulho de interromper meus amigos quendo eles começam assim "mas Renato, e se ele resolver ser..." Pára amigo! Ele não vai ser porra nenhuma. Ele é.
ResponderExcluirEu não fiz o Zé para ser Pontepretano. Fiz ele pra ser feliz. Isso é muito bonito de se falar, mas pensando bem... Guarani e Corinthians realmente não pode.
Muito obrigado pelo incentivo indefectível de toda semana, minhas amigas e leitoras Nubia e Mara.