quarta-feira, 7 de julho de 2010




Morte e vida, Vida e morte!

* Por Patrick Raymundo de Moraes

Afinal, o que é a morte? Disseram-me para procurar no cemitério, mas lá só encontrei solidão e tristeza. Nessa curiosidade mórbida, eu fui até uma faculdade para ver os mortos e tentar resgatar a idéia de morte que havia perdido. Olhando os cadáveres, muitos já dissecados, eu pude contemplar o sono, o silêncio de bocas que não falam e de olhos que já não enxergam.

Pensei que, ao mudar de pergunta, eu poderia ter uma resposta mais fácil e me perguntei: o que é a vida? Simples, não? Bastaria olhar uma rua movimentada, cheia de carros e pessoas indo e vindo, que a resposta já estaria respondida. Mas aquilo é vida? Toda aquela correria, poluição, assaltos e tiros é vida? Tenho que olhar mais fundo, você deve pensar. Olhar além da massa e tentar achar o indivíduo. Pois olhei em volta e, em uma rua perdida, em uma esquina suja, consegui me deparar com um indivíduo. Esquecido por todos que ali passavam com pressa, e celulares ligados. Esse homem caído e maltrapilho pedia atenção e cuidado. Aquilo é vida? Aquilo parecia morte em vida. Ignorado, humilhado e muitas vezes pisoteado, esse homem ainda erguia a mão pedindo ajuda.

Morte e vida pareciam se misturar nesse século confuso e sem direção. Estamos indo para onde? Quando achei ter visto um pouco de vida, em uma singela flor, que resistia bravamente ao concreto da rua, um homem a pisou e me mostrou a morte novamente. Essa história está ficando trágica demais, pensei! Por que eu estaria à procura da morte? Qual o significado de procurá-la? Deveria viver e deixar viver! Essa busca se iniciou ao ver um filme e, durante a exibição da película, que não me recordo o nome, alguém disse que estaria buscando a vida nos braços da morte. Que frase de impacto e poética. Por isso, deve ter sido algo inconsciente. Comecei minha busca pela morte, para encontrar a vida.

Não basta apenas escrever isso, respirar e ter o coração batendo. Você tem que estar vivo. Moralmente vivo, espiritualmente vivo e emocionalmente vivo. Eu precisava despertar! Achei que despertaria ao encontrar a morte, mas foi encontrando a vida que eu despertei. A vida e a morte são irmãs. Nunca se separam e sempre estão em ciclo. Outros também se sentem assim. Pára-quedistas já me disseram que só conseguem sentir que estão vivos ao desafiar a morte e pular.

Esse início de século é o começo de uma era de mudanças. A Humanidade necessita despertar ou procurar desesperadamente por algo que a desperte. Mas e esse despertar? Estamos todos mortos em vida, capturados pela sistema e escravizados pela economia. Afogados em um mundo cheio de Homens que estão mortos e seguram-te para não despertar. O cinema foi sábio em conseguir fazer filmes com essa temática e, como se espera do sistema, ganhar muito dinheiro com isso. Houve um escape da “vida-em-morte” ou “morte-em-vida” que o cinema e as atrações nos trouxeram. Eles permitem que a gente esqueça essas coisas por breves instantes. Permitem a diversão barata que vicia o cérebro e apaga por instantes essas preocupações da vida.

Lendo um livro, um dos raros momentos de reflexão da humanidade, li que um homem ocioso merecia a punição. Acho que um homem ocioso merecia ser colocado para refletir sobre essa situação atual da Humanidade. Escrever um conto sobre uma flor que bravamente sobrevive ao concreto, até ser esmagada pelo calçado de couro legítimo de um indivíduo que passa por ela, mais preocupado em não se atrasar para o emprego do que com a vida. Despertai! Será que eu estou tão ocioso no momento? Verei minha agenda e começarei a escrever sobre isso quando houver tempo, afinal, a ociosidade também é benéfica para a Humanidade.

• Colaborador do Literário

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