quinta-feira, 10 de junho de 2010




Haja coração!

* Por Fernando Yanmar Narciso

“A copa é a pátria de chuteiras, e o carnaval, a pátria sem calcinha.”
Casseta & Planeta

O Brasil é o resto do mundo virado do avesso. Em qualquer outro país, o patriotismo é apoiado e incentivado 24 horas por dia. Americanos que o digam. Quase toda casa de lá tem um mastro pra pendurar a bandeira. Há quem na rua de sunga com a bandeira estampada. Quase todo roqueiro tem uma guitarra pintada de vermelho, azul e branco. Todos param para ouvir quando alguém canta o hino nacional, que fala de sangue e canhões explodindo. Homem-Aranha e Homem de Ferro posam triunfantes diante de bandeiras gigantes tremulando. As manifestações não têm fim.

Já aqui, se alguém gritar na rua “E VIVA O BRASIL!”, quando pouco, vai ser assaltado ou tomar umas bolachas. Por acaso não existem motivos para ser patriota por aqui? Quer dizer, com samba, bundas e belezas naturais por toda parte? No Brasil o patriotismo só é aceito num contexto específico. Quando um candidato posa diante da bandeira do Brasil, leva vaias, e ninguém em sã consciência nunca pendura a bandeira do lado de fora da casa. Mas, durante a Copa do Mundo, a coisa muda de figura. Só nessa hora, o país é pintado de verde e amarelo. Asfalto verde e amarelo, pipoca verde e amarela, cerveja verde e amarela, fumaça de carro verde e amarela, camisinha texturizada verde e amarela, vibrador verde e amarelo, supositório verde e amarelo. Por um mês, nada é mais importante que ser brasileiro. Até o time começar a perder.

“Pessoa que não joga futebol, não sabe jogar futebol, não tem nada pra fazer da vida, tomando como atividade principal posicionar-se a favor de determinado clube (de futebol), fazendo tudo por ele, vestindo camisas, indo aos jogos, tornando-se agressivo, inclusive dando a própria bunda pelo time. Ou seja: um autêntico comunista!”(Karl Marx?).

Perdão antecipado pelo trocadilho. Sempre achei essa ‘bola’ excessiva que o Brasil dá pro futebol uma coisa ridícula. O povão é incapaz de votar sem receber lembrancinha de político, mas se cada um de nós fosse técnico dos times brasileiros, todos sairiam campeões, devido ao nosso ‘entendimento ímpar’ do esporte. Se o time perder, e você for besta o bastante pra repetir o clássico chavão “Mas é só um jogo!”, aguarde o piche, as penas e as vassouradas. Se nos outros países todos sabem a letra de seus hinos nacionais, aqui ele se limita quase sempre a um singelo “Ouviram do Ipiranga lalaiá, laiá”. O que é isso, gente? Só por causa de uma ‘violenciazinha’, uma ‘corrupçãozinha’ e uma ‘leve miséria’, pega mal amar nosso país? Eu sei, morremos de vergonha da maneira como nosso destino é conduzido por nossos mandantes, mas ainda existe tanta coisa ao nosso redor pra celebrar! Ih, olha lá! É GOOOOOOOOOOOOOOL!! BRASIL! BRASIL! BRASIL!

* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

3 comentários:

  1. Uma pátria que só exerce o seu patriotismo
    em época de copa do mundo...
    A bandeira enfim é honrada?
    Sei se dá pra levar a sério não.
    Ótimo texto Fernando.
    Abraços

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  2. Querendo não gostar tanto, mas mesmo assim gostando. Somos assim, e melhores, por enquanto, ainda não conseguimos ser.

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  3. E o Rio de Janeiro, então? Roubam nossos royalties do petróleo na calada da noite e só o governador fica fazendo cena, mas não toma uma atitude drástica, não propõe um boicote, não declara independência, nada. A única coisa que os fluminenses fazem é se bandear para São Paulo.

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