domingo, 13 de junho de 2010




E sempre a mesma lamúria

* Por Fernando Mariz Masagão

São quinze pra uma da manhã
e tudo está deserto.
Não há habitantes na cidade
não há sangue em minhas veias
não há estrelas no céu.
Só a música inquietante do passado parece adoecer no ar
em silêncio.
Tudo está igual.
Tudo se repete exatamente da mesma forma:
Igual.
Não importa que a morte exista
importa-me que exista a vida
e a vastidão do vazio de uma alma
que é incomensurável.
Onde está o riso, a amizade e todas as formas da esperança?
Onde andam a juventude e a fome?
Onde achar beleza não maculada?
Até as flores ficaram pedantes, intratáveis.
Os anjos e os santos e anjos têm personal trainer, celular e secretária.
Os próprios músicos se tornaram obsoletos.
A noite nasce e morre e também o dia
Sem que ninguém perceba.
Deus pune à rodo e com um fúria dos bons tempos de Sodoma
e ninguém se dá conta.
Ninguém liga.
Estão todos muito seguros
com suas luzes amarelas.
Todos muito empanturrados,
todos completamente mudos,
insensibilizados.
Alheios à dura realidade do verme,
que de forma impreterível,
nos trará de volta o Paraíso.

* Músico, dramaturgo, poeta e colaborador de publicações online sobre arte, com crônicas e críticas musicais. Guitarrista e vocalista de bandas de rock'n'roll, tem formação clássica vigorosa, em cursos de regência sinfônica, apreciação musical e instrumentação.

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