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Viva o menino Natalino!
* Por Seu Pedro
Como sugere o nome, o menino nasceu no Natal, em uma noite de 25 de dezembro, ocasião em que poucos festejam sua chegada, preocupados com a festa do comércio, presentes de um Papai-Noel desconhecido, luzes cintilantes de uma árvore colorida. O menino Natal passa sem ser reconhecido pela maioria. Ele não é assaltado ou furtado, deixa essa agonia para outros! Ele é de alegria, ele é Natalino!
Natalino pode ser descrito assim: 23 anos, filho de mãe solteira que, ainda nova, o deixou bebê, bebia muito e morreu! A avó, também chegada a uns goles, o criou com certa responsabilidade, pois enquanto viva, o fazia ir, com boa freqüência, ao aprendizado da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE, e após ficou aos cuidados de um tio, que pouco sabia de sobriedade e há dois anos morreu eletrocutado, durante mau uso de um tanquinho de lavar roupa.
Ele segue pelas ruas, ora correndo, ora com ar de cansado e faminto. Seu alimento preferido é um pastel quando tem, com um refrigerante de qualquer marca. Algumas pessoas são privilegiadas por privar da amizade do menino Natalino, que o vêem alegre, solidário e sorridente, pedindo-nos, apenas, um real para comer alguma coisa. Natalino é diferente, é excepcional. Especial, melhor dizendo!
Desde que não é mais aluno da APAE, por onde eventualmente passa para almoçar e ver as professoras, Natalino é freqüente no Centro de Atendimento Pisco-Social – CAPS para onde vai não apenas tomar medicamentos, mas vai buscar o carinho da mão amiga da assistente social, que lhe deu carro que não mata; bonito, conversível, importado da China, comprado na loja de R$ 1,99, privilégio de poucos naquele encontro de homens e mulheres especiais.
Gosta de andar na rua sem se preocupar com o dia em que ele e Ele nasceram. Prefere saber que estão vivos ele e “Papai do Céu”. Sabe que é festa porque as luzes e o colorido são maiores nestes dias, como é no São João, ou outro dia festivo do ano. Mas Natal é um dia especial. O dia em que os meninos Natalinos nasceram!
O nosso menino ali está sempre sorridente entre a multidão, e não havendo alguém que com ele sinta prazer em dançar, naquela ou noutra praça, ele dança seu próprio forró, com seus próprios pés desengonçado e ritmo adaptado. Anda sempre cheiroso e limpo. Uma vizinha lava suas roupas naquele mesmo tanquinho, e cuida da manjedoura, o quarto onde dorme Natalino, cercado de imaginários pais anjos e reis.
Um dia eu, senhor de poucas moedas, passando pela praça, deparei-me com Natalino, que me pediu o “um real”. Eu não tinha e o imitei batendo na barriga e repetindo seu grito de guerra: “tô com fome”. O menino saiu correndo e achou na praça outros amigos. E, inesperadamente, veio ao meu encontro, solidário, com dois pastéis na mão. Dinheiro Natalino conhece. Pode alguém dar-lhe uma nota de dez, vinte e até cem reais, e ele voltará com o troco, terá gasto só valor autorizado!
A idade real de Natalino pode ser vinte e três, mas é um menino de cinco anos, que nasceu em um dia de festa, e em festa permanece. Assusta aos que não o conhecem, alegrando, com seu sorriso, aos que sambem que nele há a inocência, pureza e a honestidade que faltam na sociedade dos homens “sãos”. Ele é alto e grande e a alguns causa receio! Mas ao encontrar minha esposa, filhas ou afilhadas, a elas, com candura pergunta: “cadê o barrigudo”. A este amigo permito me chamar assim!
Se muitos vão à praça apenas para ver as lâmpadas coloridas e as figuras de gesso, me alegro ir até o presépio e lá encontrar o Menino Natalino, de braços abertos, e vivo entre nós!
(*) Seu Pedro (Pedro Diedrichs) é escritor e ”Jornalista do Sertão”, 60 anos, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi / Bahia, cidade onde é voluntário da APAE e presidente do Conselho da Comunidade – CCG.
* Por Seu Pedro
Como sugere o nome, o menino nasceu no Natal, em uma noite de 25 de dezembro, ocasião em que poucos festejam sua chegada, preocupados com a festa do comércio, presentes de um Papai-Noel desconhecido, luzes cintilantes de uma árvore colorida. O menino Natal passa sem ser reconhecido pela maioria. Ele não é assaltado ou furtado, deixa essa agonia para outros! Ele é de alegria, ele é Natalino!
Natalino pode ser descrito assim: 23 anos, filho de mãe solteira que, ainda nova, o deixou bebê, bebia muito e morreu! A avó, também chegada a uns goles, o criou com certa responsabilidade, pois enquanto viva, o fazia ir, com boa freqüência, ao aprendizado da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE, e após ficou aos cuidados de um tio, que pouco sabia de sobriedade e há dois anos morreu eletrocutado, durante mau uso de um tanquinho de lavar roupa.
Ele segue pelas ruas, ora correndo, ora com ar de cansado e faminto. Seu alimento preferido é um pastel quando tem, com um refrigerante de qualquer marca. Algumas pessoas são privilegiadas por privar da amizade do menino Natalino, que o vêem alegre, solidário e sorridente, pedindo-nos, apenas, um real para comer alguma coisa. Natalino é diferente, é excepcional. Especial, melhor dizendo!
Desde que não é mais aluno da APAE, por onde eventualmente passa para almoçar e ver as professoras, Natalino é freqüente no Centro de Atendimento Pisco-Social – CAPS para onde vai não apenas tomar medicamentos, mas vai buscar o carinho da mão amiga da assistente social, que lhe deu carro que não mata; bonito, conversível, importado da China, comprado na loja de R$ 1,99, privilégio de poucos naquele encontro de homens e mulheres especiais.
Gosta de andar na rua sem se preocupar com o dia em que ele e Ele nasceram. Prefere saber que estão vivos ele e “Papai do Céu”. Sabe que é festa porque as luzes e o colorido são maiores nestes dias, como é no São João, ou outro dia festivo do ano. Mas Natal é um dia especial. O dia em que os meninos Natalinos nasceram!
O nosso menino ali está sempre sorridente entre a multidão, e não havendo alguém que com ele sinta prazer em dançar, naquela ou noutra praça, ele dança seu próprio forró, com seus próprios pés desengonçado e ritmo adaptado. Anda sempre cheiroso e limpo. Uma vizinha lava suas roupas naquele mesmo tanquinho, e cuida da manjedoura, o quarto onde dorme Natalino, cercado de imaginários pais anjos e reis.
Um dia eu, senhor de poucas moedas, passando pela praça, deparei-me com Natalino, que me pediu o “um real”. Eu não tinha e o imitei batendo na barriga e repetindo seu grito de guerra: “tô com fome”. O menino saiu correndo e achou na praça outros amigos. E, inesperadamente, veio ao meu encontro, solidário, com dois pastéis na mão. Dinheiro Natalino conhece. Pode alguém dar-lhe uma nota de dez, vinte e até cem reais, e ele voltará com o troco, terá gasto só valor autorizado!
A idade real de Natalino pode ser vinte e três, mas é um menino de cinco anos, que nasceu em um dia de festa, e em festa permanece. Assusta aos que não o conhecem, alegrando, com seu sorriso, aos que sambem que nele há a inocência, pureza e a honestidade que faltam na sociedade dos homens “sãos”. Ele é alto e grande e a alguns causa receio! Mas ao encontrar minha esposa, filhas ou afilhadas, a elas, com candura pergunta: “cadê o barrigudo”. A este amigo permito me chamar assim!
Se muitos vão à praça apenas para ver as lâmpadas coloridas e as figuras de gesso, me alegro ir até o presépio e lá encontrar o Menino Natalino, de braços abertos, e vivo entre nós!
(*) Seu Pedro (Pedro Diedrichs) é escritor e ”Jornalista do Sertão”, 60 anos, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi / Bahia, cidade onde é voluntário da APAE e presidente do Conselho da Comunidade – CCG.
Que lindo seu Pedro!
ResponderExcluirEu tive a felicidade de conviver
com um anjo chamado Renato ou melhor
"Natalino". Para ele tudo era festa
andávamos de mãos dadas toda vez que ia
na sua casa. Que saudade...
Parabéns seu Pedro pelo belo texto.
Abraços
Já conhecia Natalino desse mesmo texto. A boa índole não está atrelada ao amor materno e nem a inteligência. Ela é inata, sendo coisa que o rapaz conhece e pratica. Muito bem para os dois.
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