
A lição que fica
* Por Arita Damasceno Pettená
Nada melhor para curar angústia e amargas queixas que conhecer, de perto, a miséria humana. E foi o que fizemos, numa tarde de domingo, visitando os jardins Campineiros, Santa Mônica, São Marcos. Tantas vezes manchetes pelo número de assaltos e de crimes foi ali que pudemos sentir, no contato direto com os moradores, o drama pungente que envolve nossos bairros periféricos, tão abandonados pelos poderes públicos, tão desconhecidos de nossa comodista sociedade.
Na promiscuidade de cada casebre apenas o toque de solidariedade humana do Movimento Assistencial Espírita Maria Rosa, antiga obra do Grameiro, que, recebendo das entidades governamentais, como todas as obras assistenciais, apenas migalhas do seu orçamento, operam verdadeiros milagres nesses locais, levando a cada criatura o pão que mata a fome, a palavra que alimenta o espírito.
No balanço final de suas realizações, a diretoria concluía seu relatório, dando conhecimento ao público de impressionantes cifras de atendimento, notadamente no que se refere à sopa, que é distribuída diariamente, e às latas de leite em pó para as crianças enfermas ou desprovidas de qualquer recurso.
A fé num Ser Superior, a crença de que ainda há tempo para transformar farrapos humanos em cidadãos úteis para o mundo, tem feito com que o “Maria Rosa” não desanime de sua obra evangelizadora, de sua missão precípua, de ver em cada criatura, um filho de Deus à espera de nosso apoio, de nossa vontade de servir.
E como nos é reconfortante ver, sobre a cama humilde ou a poltrona já sem braços, uma figura esquelética de mulher, desenganada e quase já sem vida louvando a Deus e bendizendo a cada instante o sofrimento que lhe dado foi.
Esta a lição que fica. A maravilhosa lição da paciência e da aceitação. Alguém sem cultura, sem qualquer preparo, dando seu testemunho de fé, de resignação. Uma lição que fica para nós, que vivemos a nos lamentar de tudo, que nos debulhamos em crises de choro e de desesperança quando algo não vai bem, que desconhecemos o que é renúncia e doação porque colocamos sempre acima de tudo nossos próprios interesses.
Aprendamos, pois, com a própria vida e, sobretudo com os humildes, a dar mais valor às pequeninas coisas, a ver em cada próximo o nosso irmão em Cristo. Amadurecer no amor não é somente realizar campanhas beneficentes, tornar-se crônica social à custa do pobre. Às vezes um sorriso, um gesto de carinho, um simples óbolo no instante exato, tem muito mais sentido que qualquer oferta maior, porque, brotados do coração, não foram maculados pela promoção pessoal, pela falta do caráter humanitário.
E, quando estivermos tristes e sem esperança, busquemos nos barracos humildes a lição que sempre fica: de que é entre os seres mais simples que o Senhor, por certo, há de habitar porque, desprovidos de tudo, ainda são capazes de dar graças a Deus pelo nada que possuem.
* Arita Damasceno Pettená é membro da Academia Campineira de Letras, Ciências e Artes das Forças Armadas.e da Academia Campinense de Letras
* Por Arita Damasceno Pettená
Nada melhor para curar angústia e amargas queixas que conhecer, de perto, a miséria humana. E foi o que fizemos, numa tarde de domingo, visitando os jardins Campineiros, Santa Mônica, São Marcos. Tantas vezes manchetes pelo número de assaltos e de crimes foi ali que pudemos sentir, no contato direto com os moradores, o drama pungente que envolve nossos bairros periféricos, tão abandonados pelos poderes públicos, tão desconhecidos de nossa comodista sociedade.
Na promiscuidade de cada casebre apenas o toque de solidariedade humana do Movimento Assistencial Espírita Maria Rosa, antiga obra do Grameiro, que, recebendo das entidades governamentais, como todas as obras assistenciais, apenas migalhas do seu orçamento, operam verdadeiros milagres nesses locais, levando a cada criatura o pão que mata a fome, a palavra que alimenta o espírito.
No balanço final de suas realizações, a diretoria concluía seu relatório, dando conhecimento ao público de impressionantes cifras de atendimento, notadamente no que se refere à sopa, que é distribuída diariamente, e às latas de leite em pó para as crianças enfermas ou desprovidas de qualquer recurso.
A fé num Ser Superior, a crença de que ainda há tempo para transformar farrapos humanos em cidadãos úteis para o mundo, tem feito com que o “Maria Rosa” não desanime de sua obra evangelizadora, de sua missão precípua, de ver em cada criatura, um filho de Deus à espera de nosso apoio, de nossa vontade de servir.
E como nos é reconfortante ver, sobre a cama humilde ou a poltrona já sem braços, uma figura esquelética de mulher, desenganada e quase já sem vida louvando a Deus e bendizendo a cada instante o sofrimento que lhe dado foi.
Esta a lição que fica. A maravilhosa lição da paciência e da aceitação. Alguém sem cultura, sem qualquer preparo, dando seu testemunho de fé, de resignação. Uma lição que fica para nós, que vivemos a nos lamentar de tudo, que nos debulhamos em crises de choro e de desesperança quando algo não vai bem, que desconhecemos o que é renúncia e doação porque colocamos sempre acima de tudo nossos próprios interesses.
Aprendamos, pois, com a própria vida e, sobretudo com os humildes, a dar mais valor às pequeninas coisas, a ver em cada próximo o nosso irmão em Cristo. Amadurecer no amor não é somente realizar campanhas beneficentes, tornar-se crônica social à custa do pobre. Às vezes um sorriso, um gesto de carinho, um simples óbolo no instante exato, tem muito mais sentido que qualquer oferta maior, porque, brotados do coração, não foram maculados pela promoção pessoal, pela falta do caráter humanitário.
E, quando estivermos tristes e sem esperança, busquemos nos barracos humildes a lição que sempre fica: de que é entre os seres mais simples que o Senhor, por certo, há de habitar porque, desprovidos de tudo, ainda são capazes de dar graças a Deus pelo nada que possuem.
* Arita Damasceno Pettená é membro da Academia Campineira de Letras, Ciências e Artes das Forças Armadas.e da Academia Campinense de Letras
Nada como olhar para os lados
ResponderExcluire parar de se enxergar como ser único.
Abraços
Não sou pela resignação pura e simples. O conforto dado pela religião é castrador. Mesmo assim achei boa a frase: " ainda são capazes de dar graças a Deus pelo nada que possuem".
ResponderExcluir