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Domingo na casa do Gordo
* Por Urariano Mota
Às vezes, num raro momento de felicidade, bate na gente uma saudade do Gordo. Assim como nos bate uma onda do mar ao rosto, num domingo de sol, numa praia nordestina. Um gosto de sal na boca, um cheiro de mar, um vento da África, um pensamento que se mete em meio ao sentimento e nos diz: o Gordo podia, ele devia estar em nosso convívio. Como agora, neste brevíssimo instante.
Naqueles escuros, angustiantes anos de 1970, do Recife a Olinda nada havia melhor do que ir aos domingos à casa do Gordo. Era uma casa sem piscina, sem sala de recepção para as visitas, às vezes até sem cadeiras, sem banheiro decente, sem conforto.... só nos falta mesmo dizer se era uma casa. Era. A casa era o Gordo. Era ele que fazia e dava alma e vida e graça e civilização àqueles dois quartos com cozinha, com uma pequena área livre à frente, que chamávamos de terraço. Ali nos recebia. Sentávamo-nos ao chão, mui confortável e prazerosamente. Quem não o viu, não sabe. Quem não o viu que o veja.
O Gordo, evidentemente, não era magro. Embora não saibamos mais, depois de todos esses anos, com o acréscimo de aura de santo que envolve as pessoas mortas, se ele era mesmo tão gordo assim. Pois o martírio e as coisas altas do espírito nos dizem que não existem santos obesos. Então a gente fica em dúvida, se ele possuía mesmo 120 quilos para 1 metro e 70, ou se o Gordo foi um apelido que recebeu por ser menos que magro. Gordo, consideramos, gorda era a sua alma, o seu espírito, largo, generoso, valente e chorão. Um homem, no físico e na alma, de excessos. Mas fiquemos por ora no visível: em seus mais sublimes rasgos, era semelhante a Balzac, um Balzac moreno, amulatado. Em seus piores, era cheio e socado, cínico e pragmático como o Sancho Pança da ilustração de Doré.
O leitor já vê que grande é a nossa dificuldade. Queremos falar das características físicas de um amigo, mas dentre elas sempre saltam traços fora do físico. Façamos então de conta que, como se fosse de todos conhecido, ele já surge ao portão do seu terraço no domingo. Urgente é a nossa impaciência para entrar.
Chegávamos. Para não melindrar nem ferir, falarei de nós como se falasse de um bloco, sem aprofundar individualidades. Chegávamos. Chegava o galego, de ressaca da sexta e da noite do sábado, com um volume de Lukács e uma predileção feroz por Dostoiévski. Chegava o militante sindical, de ressaca da sexta e do sábado, com um volume de Machado e acusação pronta de que Lukács era um revisionista. Chegava a professora da universidade, pálida, sarcástica e de ressaca, de vários dias da semana. Chegava o desempregado, irônico e mal humorado, de ressaca de quase todos os dias da semana. Chegava o exemplar genuinamente negro do grupo, jovem à procura de orientação e de influência, de ressaca de todos os dias da semana. Chegávamos, um dos mais originais e desesperados grupos de amigos daqueles anos.
Sinto que não amadureci ainda para falar do Gordo e daquele nosso grupo. Mas a urgência obriga. Portanto, compreendam, falarei como posso.
Chegávamos loucos por e para beber, como se já loucos não fôssemos o suficiente naquelas loucas condições. Eu não tinha onde morar, e isto não era bem o refrão da música de Caymmi, porque isto significava também não ter onde comer. O Gordo e a sua casa ofereciam tudo: amigos, álcool, alimento, e, esperança para aumentar a ansiedade, a esperança de amor e sexo. (Mas sobre isto ainda não estou suficientemente maduro e maluco para tudo dizer: digo apenas que o erótico daqueles anos era o sexo da fúria, sem paz, o comer desbragado sem nenhuma felicidade, a cópula da angústia na angústia fortalecida e nutrida.) Então digo apenas que chegávamos, e tudo que será dito é verdade, por mais estranho pareça aos olhos que não nos viram.
Chegávamos. Aprendíamos ali, sentados pelo chão de cimento, que o melhor da espera do almoço era a espera. Isto porque enquanto não vinha a grande hora ouvíamos frevos de Capiba, de Nelson Ferreira, de Edgard Moraes, de João Santiago, e bebíamos cachaça, e cerveja, e cachaça, que explodia, para os desatentos, nessa alegria:
“Eu quero entrar na folia, meu bem
Você sabe lá o que é isso?
Batutas de São José, isto é
Parece que tem feitiço
Batutas tem atrações que
Ninguém pode resistir
Um frevo desses que faz
Demais a gente se distinguir.
Deixe o frevo rolar
Eu só quero saber se você vai brincar
Ah, meu bem, sem você não há carnaval
Vamos cair no passo e a vida gozar”
Quem nos visse a gritar a última estrofe mal poderia adivinhar que gritávamos “vamos cair no passo e a vida gozar”, porque tudo que menos possuíamos na vida era o gozo. E era de matar de emoção cinco seis homens solitários roucos e desentoados num “Eu quero entrar na folia, meu bem...”. Que bem, que bem? E por isso bebíamos, com sede e com volúpia, porque mais adiante vinha mais crueldade,
“Se eu pudesse lhe daria
o céu, a terra e o mar
Mandaria pratear toda a avenida
pra ver você passar...”.
É certo que possuíamos a largueza e a generosidade dos que nada têm. Mas não sei se tivéssemos muita prata, se cobriríamos com ela toda a avenida para ver o nosso amor passar. Não sei. Naquele momento, sim, e com ouro, e com diamantes, e todo o céu, e todo o mar e toda a terra, e com todo o nosso peito ardente. Havia uma esperança de que a ditadura acabasse, e antes disso, bem antes, a esperança de que no fim daquele dia não terminaríamos cobertos de vômito e sozinhos. Por isto as conversas, na casinha daquela rua de areia que dá para a praia em Rio Doce, eram travadas assim:
- O que há de mais em um homem ter muitas mulheres?
E os que não tinham uma sequer respondiam ao sonhador delirante:
- Isso é decadente.
E antes mesmo que pudéssemos num brutal exercício de imaginação descrever o paraíso da decadência, o delirante retirava a própria camisa, enfeixava-a num turbante em torno da cabeça, para nos desafiar:
- E se eu fosse um árabe?
Ficávamos mudos então diante dessa eloqüência. Ah, se fôssemos árabes do gênero dos pobres sheiks, o que não faríamos? De que paraísos não tomaríamos posse? Água Fria, capital do mundo! Mulheres desejadas na infância arrancadas das tumbas! Burguesas bonitas transformadas em gentis cadelas! Nelson Ferreira mais amado e ouvido que Cole Porter! Poesia para todos, para os miseráveis de tudo principalmente... Naquela hora, no entanto, reuníamos todos os nossos haveres, a riqueza da nossa leitura mal digerida.
- O amor, amigo, o amor.... (e alguém entre nós não completava a frase – virava o rosto para o mar por não saber dizer a falta que dava, o oco que dava a ausência de amor.)
Por isto o Gordo nos convidava. Existe coisa melhor que uma solidão compartilhada, uma “solidão socializada”, como poderíamos então dizer? Mas naquela hora não dizíamos isto, nem isto queríamos ou mesmo conseguiríamos ver. Aqueles eram anos em que tínhamos raiva do espelho. Por isto o Gordo nos convidava, não para que nos abrigássemos de nossas feridas, pois não poucas vezes nos roçamos e nos sangramos mutuamente. Não para isto nos convidava. Ele nos chamava para algo mais solar, dominical, feliz.
- Domingo, lá em casa, bobó de camarão. Feito por mim!
Ficávamos a olhar a promessa maravilhados. De que não era capaz o nosso Balzac? Bobó de camarão é um prato baiano, e o Gordo, um genuíno pernambucano, ia nos dar mais uma prova da sua versatilidade. Bobó de camarão, feito por esse leitor de Kazantzakis, por esse extraordinário conhecedor de frevos, por essa autoridade na arte de rir do próprio sofrer! Por isso, como se fosse por isso, chegávamos e chegamos. Na sala, tocava Luiz de França. Aguardente no terraço, para todos. Menos para o Gordo, que se demorava a vir.
- Cadê o Gordo?
Está na cozinha, a sua mãe nos responde. Então um de nós se levanta, para ver com os próprios olhos a oitava maravilha dos nossos domingos, o Gordo em ação. E vê, e vê, diante de um imenso caldeirão, o nosso amigo com uma colher de pau em uma das mãos e na outra um livro de receitas. Que decepção: tudo no Gordo era conhecimento maduro, solidificado. Isto não batia: com um livro a copiar o prato, logo ele, o Gordo, que era a anticitação recente. E por isto, com raiva, faz-lhe a censura:
- Cozinhando com um livro, Gordo?
- Sim... Mas saiba que o autor deste livro é marxista. E dos revolucionários!
E a raiva se desfez. E a gargalhada, no terraço, estrondou. Este era o Gordo, esta era mais uma do Gordo.
O ruim era que mais tarde, depois de toda a dissipação, sempre chegavam as sombras da noite, e com a sua chegada, nós, os “solares”, partíamos. Tudo ao fim eram os versos de Raul Moraes, na marcha-regresso Despedida:
“Adeus, ó minha gente
O Bloco vai embora
Sentindo que a alma chora
E o coração fremente
Diz, findou-se o carnaval
Até para o ano, adeus
Guarda nossa saudade
Que implorará aos céus
Felicidades para a nossa alma liberal
Essa canção saudosa
Há de fazer chorar
E sempre a recordar
Nossa gente buliçosa
De regresso a cantar”
Bêbados e sem matar a infelicidade, regressávamos. Alguns de nós sem saber para onde ir. Mas o saldo era bom, Gordo, eterno Gordo. Saibas, graças a ti naqueles domingos resistimos a mais um dia sem espelho.
* Jornalista e escritor
* Por Urariano Mota
Às vezes, num raro momento de felicidade, bate na gente uma saudade do Gordo. Assim como nos bate uma onda do mar ao rosto, num domingo de sol, numa praia nordestina. Um gosto de sal na boca, um cheiro de mar, um vento da África, um pensamento que se mete em meio ao sentimento e nos diz: o Gordo podia, ele devia estar em nosso convívio. Como agora, neste brevíssimo instante.
Naqueles escuros, angustiantes anos de 1970, do Recife a Olinda nada havia melhor do que ir aos domingos à casa do Gordo. Era uma casa sem piscina, sem sala de recepção para as visitas, às vezes até sem cadeiras, sem banheiro decente, sem conforto.... só nos falta mesmo dizer se era uma casa. Era. A casa era o Gordo. Era ele que fazia e dava alma e vida e graça e civilização àqueles dois quartos com cozinha, com uma pequena área livre à frente, que chamávamos de terraço. Ali nos recebia. Sentávamo-nos ao chão, mui confortável e prazerosamente. Quem não o viu, não sabe. Quem não o viu que o veja.
O Gordo, evidentemente, não era magro. Embora não saibamos mais, depois de todos esses anos, com o acréscimo de aura de santo que envolve as pessoas mortas, se ele era mesmo tão gordo assim. Pois o martírio e as coisas altas do espírito nos dizem que não existem santos obesos. Então a gente fica em dúvida, se ele possuía mesmo 120 quilos para 1 metro e 70, ou se o Gordo foi um apelido que recebeu por ser menos que magro. Gordo, consideramos, gorda era a sua alma, o seu espírito, largo, generoso, valente e chorão. Um homem, no físico e na alma, de excessos. Mas fiquemos por ora no visível: em seus mais sublimes rasgos, era semelhante a Balzac, um Balzac moreno, amulatado. Em seus piores, era cheio e socado, cínico e pragmático como o Sancho Pança da ilustração de Doré.
O leitor já vê que grande é a nossa dificuldade. Queremos falar das características físicas de um amigo, mas dentre elas sempre saltam traços fora do físico. Façamos então de conta que, como se fosse de todos conhecido, ele já surge ao portão do seu terraço no domingo. Urgente é a nossa impaciência para entrar.
Chegávamos. Para não melindrar nem ferir, falarei de nós como se falasse de um bloco, sem aprofundar individualidades. Chegávamos. Chegava o galego, de ressaca da sexta e da noite do sábado, com um volume de Lukács e uma predileção feroz por Dostoiévski. Chegava o militante sindical, de ressaca da sexta e do sábado, com um volume de Machado e acusação pronta de que Lukács era um revisionista. Chegava a professora da universidade, pálida, sarcástica e de ressaca, de vários dias da semana. Chegava o desempregado, irônico e mal humorado, de ressaca de quase todos os dias da semana. Chegava o exemplar genuinamente negro do grupo, jovem à procura de orientação e de influência, de ressaca de todos os dias da semana. Chegávamos, um dos mais originais e desesperados grupos de amigos daqueles anos.
Sinto que não amadureci ainda para falar do Gordo e daquele nosso grupo. Mas a urgência obriga. Portanto, compreendam, falarei como posso.
Chegávamos loucos por e para beber, como se já loucos não fôssemos o suficiente naquelas loucas condições. Eu não tinha onde morar, e isto não era bem o refrão da música de Caymmi, porque isto significava também não ter onde comer. O Gordo e a sua casa ofereciam tudo: amigos, álcool, alimento, e, esperança para aumentar a ansiedade, a esperança de amor e sexo. (Mas sobre isto ainda não estou suficientemente maduro e maluco para tudo dizer: digo apenas que o erótico daqueles anos era o sexo da fúria, sem paz, o comer desbragado sem nenhuma felicidade, a cópula da angústia na angústia fortalecida e nutrida.) Então digo apenas que chegávamos, e tudo que será dito é verdade, por mais estranho pareça aos olhos que não nos viram.
Chegávamos. Aprendíamos ali, sentados pelo chão de cimento, que o melhor da espera do almoço era a espera. Isto porque enquanto não vinha a grande hora ouvíamos frevos de Capiba, de Nelson Ferreira, de Edgard Moraes, de João Santiago, e bebíamos cachaça, e cerveja, e cachaça, que explodia, para os desatentos, nessa alegria:
“Eu quero entrar na folia, meu bem
Você sabe lá o que é isso?
Batutas de São José, isto é
Parece que tem feitiço
Batutas tem atrações que
Ninguém pode resistir
Um frevo desses que faz
Demais a gente se distinguir.
Deixe o frevo rolar
Eu só quero saber se você vai brincar
Ah, meu bem, sem você não há carnaval
Vamos cair no passo e a vida gozar”
Quem nos visse a gritar a última estrofe mal poderia adivinhar que gritávamos “vamos cair no passo e a vida gozar”, porque tudo que menos possuíamos na vida era o gozo. E era de matar de emoção cinco seis homens solitários roucos e desentoados num “Eu quero entrar na folia, meu bem...”. Que bem, que bem? E por isso bebíamos, com sede e com volúpia, porque mais adiante vinha mais crueldade,
“Se eu pudesse lhe daria
o céu, a terra e o mar
Mandaria pratear toda a avenida
pra ver você passar...”.
É certo que possuíamos a largueza e a generosidade dos que nada têm. Mas não sei se tivéssemos muita prata, se cobriríamos com ela toda a avenida para ver o nosso amor passar. Não sei. Naquele momento, sim, e com ouro, e com diamantes, e todo o céu, e todo o mar e toda a terra, e com todo o nosso peito ardente. Havia uma esperança de que a ditadura acabasse, e antes disso, bem antes, a esperança de que no fim daquele dia não terminaríamos cobertos de vômito e sozinhos. Por isto as conversas, na casinha daquela rua de areia que dá para a praia em Rio Doce, eram travadas assim:
- O que há de mais em um homem ter muitas mulheres?
E os que não tinham uma sequer respondiam ao sonhador delirante:
- Isso é decadente.
E antes mesmo que pudéssemos num brutal exercício de imaginação descrever o paraíso da decadência, o delirante retirava a própria camisa, enfeixava-a num turbante em torno da cabeça, para nos desafiar:
- E se eu fosse um árabe?
Ficávamos mudos então diante dessa eloqüência. Ah, se fôssemos árabes do gênero dos pobres sheiks, o que não faríamos? De que paraísos não tomaríamos posse? Água Fria, capital do mundo! Mulheres desejadas na infância arrancadas das tumbas! Burguesas bonitas transformadas em gentis cadelas! Nelson Ferreira mais amado e ouvido que Cole Porter! Poesia para todos, para os miseráveis de tudo principalmente... Naquela hora, no entanto, reuníamos todos os nossos haveres, a riqueza da nossa leitura mal digerida.
- O amor, amigo, o amor.... (e alguém entre nós não completava a frase – virava o rosto para o mar por não saber dizer a falta que dava, o oco que dava a ausência de amor.)
Por isto o Gordo nos convidava. Existe coisa melhor que uma solidão compartilhada, uma “solidão socializada”, como poderíamos então dizer? Mas naquela hora não dizíamos isto, nem isto queríamos ou mesmo conseguiríamos ver. Aqueles eram anos em que tínhamos raiva do espelho. Por isto o Gordo nos convidava, não para que nos abrigássemos de nossas feridas, pois não poucas vezes nos roçamos e nos sangramos mutuamente. Não para isto nos convidava. Ele nos chamava para algo mais solar, dominical, feliz.
- Domingo, lá em casa, bobó de camarão. Feito por mim!
Ficávamos a olhar a promessa maravilhados. De que não era capaz o nosso Balzac? Bobó de camarão é um prato baiano, e o Gordo, um genuíno pernambucano, ia nos dar mais uma prova da sua versatilidade. Bobó de camarão, feito por esse leitor de Kazantzakis, por esse extraordinário conhecedor de frevos, por essa autoridade na arte de rir do próprio sofrer! Por isso, como se fosse por isso, chegávamos e chegamos. Na sala, tocava Luiz de França. Aguardente no terraço, para todos. Menos para o Gordo, que se demorava a vir.
- Cadê o Gordo?
Está na cozinha, a sua mãe nos responde. Então um de nós se levanta, para ver com os próprios olhos a oitava maravilha dos nossos domingos, o Gordo em ação. E vê, e vê, diante de um imenso caldeirão, o nosso amigo com uma colher de pau em uma das mãos e na outra um livro de receitas. Que decepção: tudo no Gordo era conhecimento maduro, solidificado. Isto não batia: com um livro a copiar o prato, logo ele, o Gordo, que era a anticitação recente. E por isto, com raiva, faz-lhe a censura:
- Cozinhando com um livro, Gordo?
- Sim... Mas saiba que o autor deste livro é marxista. E dos revolucionários!
E a raiva se desfez. E a gargalhada, no terraço, estrondou. Este era o Gordo, esta era mais uma do Gordo.
O ruim era que mais tarde, depois de toda a dissipação, sempre chegavam as sombras da noite, e com a sua chegada, nós, os “solares”, partíamos. Tudo ao fim eram os versos de Raul Moraes, na marcha-regresso Despedida:
“Adeus, ó minha gente
O Bloco vai embora
Sentindo que a alma chora
E o coração fremente
Diz, findou-se o carnaval
Até para o ano, adeus
Guarda nossa saudade
Que implorará aos céus
Felicidades para a nossa alma liberal
Essa canção saudosa
Há de fazer chorar
E sempre a recordar
Nossa gente buliçosa
De regresso a cantar”
Bêbados e sem matar a infelicidade, regressávamos. Alguns de nós sem saber para onde ir. Mas o saldo era bom, Gordo, eterno Gordo. Saibas, graças a ti naqueles domingos resistimos a mais um dia sem espelho.
* Jornalista e escritor
Esse Gordo era um sabio. Cozinhava com um livro de receitas na mão. Mas que livro! Livro de um autor marxista...Rs,rs,rs
ResponderExcluirDeve ter sido uma figura inesquecível para todos que com ele conviveram.
Que linda homenagem a um amigo, Urariano! Parabéns!
Ainda bem que vim, mesmo de forma retardatária, ler essa beleza de saudade. Fui conduzida de maneira mágica aos meus verdes anos. Não conheci o Gordo, mas conheci uma magra que tinha esse poder de confluir. Pena que foi embora numa traição ao grupo. Mas acabei por perdoá-la. Muito bom Urariano!
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