

Você era
* Por Marcelo Sguassábia
Você era uma lacuna. Toneladas de vazio se ergueram nos arredores, demarcando seu lugar. Por essa fenda a alargar-se, um cão vaga até hoje em inanição a farejar seu rasto e a vasculhar arestas.
Você era uma borracha. Das verdinhas e macias, que a gente levava no estojo, quando nem me passava pela cabeça tirá-la para dançar. O fato é que um belo dia, sozinha a ouvir Rubber Soul, você apagou o meu rosto no caderno de espiral. E exultou, ainda por cima, rindo-se do meu sumiço.
Você era um exaustor. Sugou o ar carregado de vagabundagem e os restos de festa que haviam. Lançou para fora do apê todas as cinzas e cacos, que devem jazer amorfos em algum bueiro da pólis. O que sobrou, se sobrou, respira com a ajuda de aparelhos.
Você era uma pílula de placebo com validade vencida. E eu a sentir seus efeitos me fiando no seu rótulo. Depois veio a rebordosa, que deixou tudo mais seco que verso de João Cabral.
* Redator publicitário há mais de 20 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”
* Por Marcelo Sguassábia
Você era uma lacuna. Toneladas de vazio se ergueram nos arredores, demarcando seu lugar. Por essa fenda a alargar-se, um cão vaga até hoje em inanição a farejar seu rasto e a vasculhar arestas.
Você era uma borracha. Das verdinhas e macias, que a gente levava no estojo, quando nem me passava pela cabeça tirá-la para dançar. O fato é que um belo dia, sozinha a ouvir Rubber Soul, você apagou o meu rosto no caderno de espiral. E exultou, ainda por cima, rindo-se do meu sumiço.
Você era um exaustor. Sugou o ar carregado de vagabundagem e os restos de festa que haviam. Lançou para fora do apê todas as cinzas e cacos, que devem jazer amorfos em algum bueiro da pólis. O que sobrou, se sobrou, respira com a ajuda de aparelhos.
Você era uma pílula de placebo com validade vencida. E eu a sentir seus efeitos me fiando no seu rótulo. Depois veio a rebordosa, que deixou tudo mais seco que verso de João Cabral.
* Redator publicitário há mais de 20 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”
Não acredito em nada do que você escreveu. Caso ela fosse tão pouco, na certa não estaria enfeitando as telas de quem acessa o Literário. Sempre disse que mais falso do que político apenas os eleitores. Mas acrescento outro a lista: os escritores. Marcelo, ser placebo já é muito, mas com prazo de validade? Hoje você excedeu-se na criatividade. Muito bem!
ResponderExcluirTexto como sempre magnífico, literatura de primeira ordem, show de criatividade, de jogo de palavras ... E mais seco que verso de João Cabral realmente não há! Parabéns, mestre Marcelo.
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