quarta-feira, 8 de julho de 2009




Endecha

* Por Adélia Prado

Embora a velha roseira insista neste agosto e
confirmem o recomeço estas mulheres grávidas,

eu sofro de um cansaço, intermitente como certas febres.

Me acontece lavar os cabelos e ir secá-los ao sol
desavisada. Ocorre até que eu cante.

Mas pousa na canção a negra ave e eu desafino rouca,
em descompasso, uma perna mais curta,

a ausência ocupando todos os meus cômodos,
a lembrança endurecida no cristal
de uma pedra na uretra.

* Poetisa

Um comentário:

  1. As peças vão quebrando e não dá para parar e consertar. Parece impossível envelhecer sem pelo menos um pouco de melancolia.
    Destaco: " a ausência ocupando todos os meus cômodos". Resumo do nada que pode nos acometer em certos dias.

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