quinta-feira, 4 de junho de 2009


Prazer, não tortura

Alguns professores entediados (é verdade que remunerados muito aquém da importância da sua função), e temo que seja a maioria, vêm transformando, há já bom tempo, a leitura de um grande prazer que deve ser, em verdadeira tortura.
Em vez de motivarem os alunos a ler, mostrando-lhes o quanto isso pode ser não somente útil, mas sobretudo prazeroso, impõem-lhes esse exercício como simples e maçante “obrigação”. E dessa forma, a coisa não funciona nunca. Muitos são até reprovados de série por não saberem interpretar corretamente determinado texto, em geral de algum clássico da literatura brasileira, o que acentua sua repulsa pelos livros.
Há escolas, porém, que agem ao contrário. Em vez da ameaça implícita de castigo aos alunos, caso não leiam determinado livro e não o interpretem corretamente, optam pelo incentivo. Algumas (todas particulares e, portanto, pagas), fazem da leitura matéria extracurricular, que não vale para a atribuição de nota, promovendo autênticos saraus literários, ocasião em que os jovens descobrem que o que lhes parecia objeto de tortura, é, na verdade, inesgotável fonte de prazer (além de conhecimento, claro).
Há colégios (geralmente os mantidos por denominações religiosas), que realizam concursos anuais, dos quais podem participar todos os alunos, de todos os cursos que têm. Os melhores textos são meticulosamente revisados, criteriosamente editados e reunidos numa antologia anual, vendida para a cobertura dos custos aos próprios participantes, aos demais estudantes, bem como aos seus pais.
Esses volumes permanecem na biblioteca da escola, para consulta em anos seguintes. E os jovens autores sentem orgulho imenso por integrar tais antologias. Eu mesmo já revisei e editei vários desses livros e notei que a qualidade teve sensível evolução de um ano para outro.
Esse procedimento estimula não somente a leitura, como, e principalmente, a redação. Muitos desses alunos já manifestaram, ao cabo de palestras que fiz nessas escolas, interesse em se tornarem escritores. Não tenho dúvidas que vários deles se tornarão. E os que não se tornarem, serão, com absoluta certeza, leitores compulsivos, para o resto de suas vidas. Porquanto assimilaram corretamente a lição de que a leitura é um imenso prazer, sempre, e jamais a temida tortura que muitos e muitos alunos, infelizmente, entendem que seja.

Boa leitura.

O Editor.

Um comentário:

  1. Pedro, também compreendo como erro a abordagem curricular da literatura. O aluno de 12, 13 anos tem de enfrentar volumes de 300 páginas de livros escritos há 150 anos. Os costumes daquela época, o assunto adulto, e a linguagem empolada são, além de maçantes, intransponíveis para a maioria dos meninos. Melhor seria começar por temas atuais, escritos por jovens. Depois de adultos, já para o vestibular, ver alguns clássicos na lista de livros obrigatórios. Enfiar "goela abaixo" palavras difíceis, apenas para dizer que obrigou a turma a ler sempre me pareceu o pior caminho.

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