segunda-feira, 1 de junho de 2009




Manifesto pela vida

* Por Aliene Coutinho

Na vida, temos que amadurecer, ser responsáveis, obedecer a normas, regras, horários. Sermos gentis, educados, disciplinados, prudentes e engolir muitos sapos. Faz parte! Assim, nossos pais foram educados e educaram a gente. Mas, creio que no meio de tudo isso é preciso relaxar, senão, como tudo fica chato e previsível.

Temos de andar de pé descalço sem medo das pedras e animais peçonhentos. Temos de tomar banho de chuva sem se preocupar com uma gripe. Temos de andar de madrugada pelas ruas, ou embaixo do prédio que moramos, sem temer os bandidos. Temos que sair da estrada principal, sem cobrar de si mesmo a hora da chegada. Temos que parar por parar, um momento que seja, e fazer sudoku. Temos que arriscar tudo, mesmo que por nada. Isso também faz parte!

Quem se “joga” na vida desse jeito sempre parece aos olhos dos outros um aventureiro, um cabeça vazia. Quem não tem medo, nem de si mesmo, para muita gente não é normal. A maioria das pessoas prefere mesmo viver na mediocridade, no que é comum. Ser e fazer o que todos fazem. Traçam uma linha e seguem reto. Entre razão e emoção, não pestanejam: a razão é seu guia.

Mas, creiam, conheço algumas dessas pessoas certinhas. Elas vivem como num teatro. São capacitadas para a peça da “vida”: cada gesto é ensaiado, cada fala treinada, repassada várias vezes. Têm consciência do papel que desempenham e não abrem mão. Daí quando se deparam com aquele que foge às convenções, tentam se igualar. Mas, não convencem. Jamais seriam agraciados como melhor atriz/ator. Eles estão totalmente enquadrados no contexto. Se alguns trazem em si a liberdade de expressão, emoção, outros fazem das tripas coração para esconder essa liberdade como se ela fosse uma corrente de ferro que os arrasta para o precipício da loucura.

Que loucura é essa? De dar um tempo? De ser feliz? De ser agora, sem pensar no daqui a pouco? Que risco corremos quando somos o que somos, quando deixamos vir à tona, os nossos mais primitivos desejos? Por que estamos condenados à incompreensão por querermos ser livres, mesmo que por momentos?

Confesso: também sou uma dessas “enquadradas”. É mesmo difícil fugir aos conceitos e preconceitos. Mas, sempre que posso, e até mesmo quando não posso, relaxo. Saio do eixo, do prumo. E aí ganho fama de maluca, porque, além de tudo, sou daquelas que ri na hora errada, e que fala muitas vezes sem pensar o que todos gostariam de dizer. É mesmo complicado viver, mas a gente bem que pode descomplicar um pouco. Se tivesse que lançar um manifesto, ah, com certeza, seria por uma vida menos comedida e mais divertida!

* Jornalista e professora de Telejornalismo

4 comentários:

  1. Faz lembrar o filme Carpe Diem. Mas que é uma tarefa duríssima, isso é. Talvez esteja aí o maior dilema do ser humano.

    ResponderExcluir
  2. Eu vivo um dia de cada vez e acredite, sou " desenquadrada."
    Hoje esquento menos a cabeça. A vida passa rápida demais e não vale a pena tanta preocupação. A única coisa que fica é o que levamos dentro da gente. O resto é ilusão.
    Seu belo texto me fez lembrar a música " Epitáfio" do Titãs..
    Adorei.

    ResponderExcluir
  3. Descumprir regras de vez em sempre traz emoções fortes e muita adrenalina. Na família tenho fama de "rebelde que cumpre todas as regras". Quando, depois de meio século de existência as desobedeci, vivi extremos, mas "confesso que vivi". Espero ainda quebrar mais algumas delas.
    Reparo: Não seria "sem nos preocuparmos com uma gripe... sem cobramos de nós mesmos a hora da chegada..."?

    ResponderExcluir
  4. Sim, Aliene, quem foge dos papéis que a sociedade estabelecida dita, paga sempre um alto preço, mas acho que vale a pena, pois o que interessa é a nossa verdade interior, a nossa conscie você não prejudica ninguém, vale a pena ser verdadeira.

    ResponderExcluir