terça-feira, 12 de maio de 2009


Testemunhas oculares

Em nossas biografias, certamente aparecerá esta nossa participação no Literário. Um dia, provavelmente na virada do século XXI para o XXII, nossos textos, espontâneos e despreocupados, serão objetos de acurado estudo por parte de estudantes do futuro, da mesma forma que os de Machado de Assis, Lima Barreto, Aluízio Azevedo e tantos outros foram um dia para nós. Exagero? Longe disso!
Os escritores citados foram testemunhas do seu tempo. Descreveram o que pensavam, como se vestiam, onde moravam etc. as pessoas do século XIX. Nós temos o privilégio de fazer o mesmo, mas abrangendo dois séculos, em vez de apenas um, dos quais fomos “testemunhas” (pelo menos de trechos deles): os XX e XXI.
Numa rápida passada de olhos nos lançamentos das editoras, podemos constatar que já há alguns livros tratando da história do século passado. E nos surpreendemos. Afinal, testemunhamos boa parte desses acontecimentos que hoje já são história. Vivemos parte deles. De alguns, fomos até personagens, mesmo que secundários.
Resistimos às ditaduras, nos horrorizamos com as duas bombas atômicas que em questão de minutos varreram do mapa as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, tomamos ciência do esfacelamento de uma superpotência, a União Soviética. Alguns de nós testemunhamos o dia em que Neil Armstrong se tornou o primeiro homem a pisar no solo da Lua. Emocionamo-nos com as mortes de Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves e Ayrton Senna que traumatizaram o País. E assim por diante.
Todos esses fatos, hoje, constituem pano de fundo de nossos contos e romances (ou de boa parte deles). O conhecimento de história é importantíssimo para o escritor de ficção. Dá verossimilhança às suas produções, situando suas histórias num determinado período, com seu respectivo contexto.
Claro que posso criar mundos em profusão, distantes no tempo e no espaço, mas que só existem em minha imaginação, como fazem os autores de ficção científica. Eles avançam não parcos anos no calendário, mas milênios. Isso, contudo, não acumplicia o leitor. Tira um pouco a verossimilhança do enredo. As descrições das cidades, pessoas, indumentárias, moradias etc. soam artificiosas, forçadas, inverossímeis. O leitor gosta de se identificar com cenários e personagens que conhece (ou julga conhecer).
Os textos que publicamos hoje no Literário (muitos dos quais passam batidos ao olhar do leitor menos atento), amanhã serão procurados com avidez. Mesmo que não venhamos a nos dar conta, são documentos da nossa época. Afinal, somos testemunhas oculares de parte da história. Mas levamos uma vantagem sobre as demais testemunhas: temos talento e disposição de registrar, em texto, o que acontece tanto em nós, em nosso interior, quanto ao nosso redor.

Boa leitura.

O Editor.

3 comentários:

  1. Pedro, todos os dias você nos traz lições de perserverança. E não para fazer rima, também nos traz lições de tolerância. Salve Pedro.

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  2. Observo que renova temas diariamente no editorial, com chamamentos para debates, conclamando a comentar. A sua disposição é invejável, assim como a sua fé no outro.

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  3. Pedro

    Você, ao mesmo tempo que nos incentiva a cada dia, nos coloca uma enorme responsabilidade: ser alvos de estudos das futuras gerações.Obrigada!
    Forte abraço

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