sábado, 11 de abril de 2009

Uma van, uma sexta-feira


* Por Keli Vasconcelos



Sexta-feira. Poderia ser mais um dia de trabalhador, orando para que a sexta-feira laboriosa passe e dê lugar ao deleite da noite e da diversão. Na van, passageiros discutiam a viagem rápida à praia no fim de semana que despontava; estudantes faziam o homework atrasado do curso de inglês, bem como não é raro ver uma pessoa a ler um romance, tragédia ou autoajuda da moda. O tempo parece moroso, morno, lento. Lendo, porém, passa prosa.

Os carros deslizam pelo asfalto. Rasgam as moléculas de calor escaldante que parece tudo derreter. Ilusão de ótica com efeitos reais, já que o suor escorre pelas têmporas.

O veículo da autoescola segue com um aluno. Este atento às instruções passa reto e se aproxima da van, pedindo passagem. Curva. Estrondo. Susto. Esmurro. O condutor da van discute com o aspirante a motorista enquanto os passageiros se veem inertes, sem saberem o quê fazer. Anota-se placas, pedem-se testemunhas. Senhoras têm medo de perderem a hora no consultório; trabalhadores o atraso que poderá custar o emprego.

Depois de esbravejo e gritaria, o motorista da van entra no veículo e prossegue. O caminho de outrora tão comum aos olhos parece ter a nuança o fato momentâneo que tornou os minutos mais agitados, cheios de adrenalina.

Ele pega mais algumas pessoas nos pontos, remoendo-se de raiva. Engraçado ver que pessoas entram sem saber o porquê das caras de alguns assustados e outros descem com assunto fresco para tarde que anuncia. E assim chega ao seu destino.

O fiscal coça a cabeça e o motorista explica o ocorrido. São poucos que estão na fila para embarcar que reparam na lataria amassada. São muitos que entram em saem todos os dias nesta mesma van, que ontem estava com a funilaria surrada, porém conservada. Hoje tem a marca de um cálculo impreciso.

E o aluno da autoescola? Será de desistiu ou leva este ponto na carteira da vida? Que importa, pois já esta cheia a van para o retorno!

São mistérios do cotidiano que se vacilar desembarcam pelo lado direito do esquecimento.

* Jornalista de SP. Já trabalhou em rádio, assessoria e editoria, além de realizar trabalhos em revistas. Garimpa na metrópole uma história lapidada do cotidiano.

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