sexta-feira, 10 de abril de 2009

A resistência põe as suas forças frente aos desafios




* Por Juliano Luís Pereira Sanches


Assim como Lampião e Maria Bonita, nós, homens e mulheres, temos a possibilidade de nos armarmos para os nossos desafios. Não precisamos ferir com balas ou facões. Se a violência é uma demonstração de medo, o que fazemos é, justamente, o contrário. Tiramos a carabina, a força que vem de dentro, e colocamos na mesa, à vista, à disposição, para qualquer necessidade, possibilidade, defesa, ação, prova, ou promessa. E, assim, esperamos os resultados e as conseqüências.

A carabina é nada mais do que a expressão da força, o soltar do latente, o sol expoente. Sem abaixar a cabeça para coronel, nos colocamos à direita de todo dicionário que inclui a palavra resolver, seja de um jeito ou de outro. Nos transformamos a cada novo piscar de olhos. É gostoso entrar, de peito, nas fogueiras e oceanos mais prazerosos da vida, pois é aí, nesses lugares, com as oposições, as resistências e as divergências, que vêm as mudanças. Somos guerreiros de um conflito que não começamos.

Se a rebeldia é repugnante aos olhos da conservação, somos gotas de lava que pularam do vulcão, para acertar qualquer estagnação. Só tiramos a carabina da mesa quando, enfim, cumprimos o que viemos fazer aqui, nas jaulas ou na casa do coronel. Não somos caçadores de borboletas, muito menos a voz da revelação, apenas aqueles que se revestem com tudo o que têm, seja com um cajado, um atabaque, uma cruz, ou uma corda, para amarrar os que querem tirar a polpa da natureza. Querem nos jogar, feito sementes, ao fogo. A fruta tem sementes e polpa, mas é um todo. Não estamos à disposição dos usurpadores, mas, sim, vivos e conscientes, principalmente para colocarmos as mãos em ação. Se nos fazem sementes, mal sabem o quanto podemos.

É com as sementes que surgem os espinhos, as selvas, os cipós, as caiporas, os embaraços, os corpos-secos. As sementes se multiplicam a todo momento, porque são imponentes, desbravadoras, filhas de São Jorge. Salve guerreiro! Se acumulam a polpa e sugam as frutas, nós bebemos a água que brota da terra e nos tornamos os espinhos cravados, as espadas de São Jorge, as plantas de força, aqueles que vêm do poder espiritual, de Deus, dos elementos da natureza.

As polpas se acabam tal como as riquezas da terra. Mas, as sementes estão sempre a fertilizar. E, por isso, o jaguncismo põe em xeque as tentativas de exploração e repressão, seja pela força do cipó, ou com as armas interiores. Pulamos, descalços, pelas fogueiras da vida, para saudar os nossos santos, pois não nos esquecemos dos que nos dão a coragem. Acendemos os nossos incensos, as nossas velas, fazemos os nossos despachos, montamos os nossos altares.

Não precisamos carregar livros em baixo dos braços nem usar ternos para sermos o que somos. O nosso púlpito é montado pelas raízes, pelos carvalhos, pelo fogo Divino, por tudo que chega e transforma. Não precisamos dos supostos “bons costumes” dos “homens de bem”, que se dizem pregadores da moral, mas que, na verdade, são escravizadores das consciências, recrutadores das massas. Para esses, estamos com as nossas carabinas apontadas.

O apontar de nossas carabinas se resume em nos pormos em movimento e expressarmos nossa resistência às aculturações, às passividades e aos conservadorismos. Não dormimos de botina e, por isso, conhecemos bem as tramas dos que impõem regras que, de um modo geral, não cumprem, nem de longe. Querem exércitos de homens bovinos, desprovidos de criticidade, diálogo, intuição, jeito de ser, personalidade individual. É fácil ser o que os outros são, mas o verdadeiro gosto da vida é se fundir nos emaranhados das experiências tal como o ferro o faz ao se banhar no fogo.

* Jornalista, folclorista e poeta de Campinas. Foi repórter de assuntos gerais nos programas Sexta Cultural, Fractal, Jornal da Educativa e Bom Dia Campinas, daRádio Educativa FM 101.9 (http://www.campinas.sp.gov.br/). Atualmente, é apresentador, repórter e produtor do programa de jornalismo educativo Ponto & Vírgula da Rádio Educativa em parceria com a Secretaria de Educação de Campinas. Colaborador do Portal Sorocult (http://www.sorocult.com/), e colunista do Jornalzen (http://www.jornalzen.com.br/), de Campinas.

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