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Onde Foi que...?
* Por Risomar Fasanaro
Mesmo os fatos mais tristes, mais desoladores podem produzir uma bela historia. Assim considero o livro de Aluízio Palmar “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?” E o que é tão bonito nesta obra? Tudo. Da capa ao texto. A capa nos traz à lembrança, às respostas que, durante os longos interrogatórios, os donos daquelas botas exigiam dos envolvidos na resistência contra a ditadura. Sim, eram eles, muitos dos que calçavam aquelas botas, os donos do poder. E Simon Louis Ducroquest, foi muito feliz, a meu ver, na escolha da foto de Diego Singh (para a capa do livro?).
Mas é durante a leitura que penetramos nos meandros dessa historia. Esta obra é mais do que o registro da luta de um homem em busca da verdade. É um verdadeiro tributo aos companheiros que com ele lutaram e, vítimas de um traidor, foram assassinados.
Enquanto muitos dos que viveram na prisão, a tortura e/ou o exílio, ao voltar tentaram esquecer a tragédia que viveram, Aluízio Palmar procurou de todas as formas possíveis, com verdadeira tenacidade, descobrir o “cemitério” daqueles guerrilheiros. O local em que “enterraram nossos mortos”. Esta espinha até agora está cravada na garganta de todos que resistiram à ditadura.
A cada possível pista ele vai, e seguimos seus passos, torcemos por ele, de um lugar a outro, de uma pessoa a outra, unindo fios aqui e ali, sempre com a esperança de encontrar o local dos túmulos. Mas a cada passo Aluizio volta decepcionado. Anos e anos dedicou sua vida a esta causa, e quando acreditamos que as peças se encaixam, e que por fim ele irá concluir aquele quebra-cabeça que ninguém sabe ainda que desenho produzirá no final, nos vem a frustração: mais uma vez não chegamos a lugar algum.
Este é um dos relatos imprescindíveis aos que querem conhecer parte da historia recente do país. Lendo as 386 páginas do livro é possível entender o orgulho que sentem todos que participaram daquela luta da geração 68.
O sentimento de solidariedade, de amizade, de comunhão de pensamento justifica a causa a que Aluizio Palmar se entregou e que narra em seu livro. Sentimento que se faz presente a cada reencontro com seus companheiros de luta.
Comovem-nos as cenas do seu reencontro, após vários anos, com Madalena e Giovanetti; Fortim e Nadja e vários outros ex-combatentes; E é doloroso relembrar as duras críticas que Maria do Carmo Brito e Inês Etienne Romeu sofreram de Onofre Pinto ao alertá-lo para a traição do “cabo” Anselmo. Desconfianças que só muito mais tarde se viram confirmadas; quando muitos já tinham perdido a vida.
O autor também conta como os tentáculos da ditadura brasileira ultrapassavam as fronteiras e alcançavam suas vítimas: brasileiros exilados que já estavam trabalhando e constituindo família no exterior eram atraídos por traidores a serviço da repressão, e caiam em emboscadas onde perdiam a vida.
“Onde vocês enterraram Nossos Mortos?” é muito mais do que me cabe aqui escrever. Recomendo a leitura a todos que se interessam por aquele período da historia do pais.
(Palmar, Aluízio – Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? - 3ª Edição, Curitiba, Travessa dos Editores, 2007. A capa é de Simon Louis Ducroquest, a partir de uma foto de Diego Singh, e o projeto gráfico é de Paulo Sandrini).
* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.
* Por Risomar Fasanaro
Mesmo os fatos mais tristes, mais desoladores podem produzir uma bela historia. Assim considero o livro de Aluízio Palmar “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?” E o que é tão bonito nesta obra? Tudo. Da capa ao texto. A capa nos traz à lembrança, às respostas que, durante os longos interrogatórios, os donos daquelas botas exigiam dos envolvidos na resistência contra a ditadura. Sim, eram eles, muitos dos que calçavam aquelas botas, os donos do poder. E Simon Louis Ducroquest, foi muito feliz, a meu ver, na escolha da foto de Diego Singh (para a capa do livro?).
Mas é durante a leitura que penetramos nos meandros dessa historia. Esta obra é mais do que o registro da luta de um homem em busca da verdade. É um verdadeiro tributo aos companheiros que com ele lutaram e, vítimas de um traidor, foram assassinados.
Enquanto muitos dos que viveram na prisão, a tortura e/ou o exílio, ao voltar tentaram esquecer a tragédia que viveram, Aluízio Palmar procurou de todas as formas possíveis, com verdadeira tenacidade, descobrir o “cemitério” daqueles guerrilheiros. O local em que “enterraram nossos mortos”. Esta espinha até agora está cravada na garganta de todos que resistiram à ditadura.
A cada possível pista ele vai, e seguimos seus passos, torcemos por ele, de um lugar a outro, de uma pessoa a outra, unindo fios aqui e ali, sempre com a esperança de encontrar o local dos túmulos. Mas a cada passo Aluizio volta decepcionado. Anos e anos dedicou sua vida a esta causa, e quando acreditamos que as peças se encaixam, e que por fim ele irá concluir aquele quebra-cabeça que ninguém sabe ainda que desenho produzirá no final, nos vem a frustração: mais uma vez não chegamos a lugar algum.
Este é um dos relatos imprescindíveis aos que querem conhecer parte da historia recente do país. Lendo as 386 páginas do livro é possível entender o orgulho que sentem todos que participaram daquela luta da geração 68.
O sentimento de solidariedade, de amizade, de comunhão de pensamento justifica a causa a que Aluizio Palmar se entregou e que narra em seu livro. Sentimento que se faz presente a cada reencontro com seus companheiros de luta.
Comovem-nos as cenas do seu reencontro, após vários anos, com Madalena e Giovanetti; Fortim e Nadja e vários outros ex-combatentes; E é doloroso relembrar as duras críticas que Maria do Carmo Brito e Inês Etienne Romeu sofreram de Onofre Pinto ao alertá-lo para a traição do “cabo” Anselmo. Desconfianças que só muito mais tarde se viram confirmadas; quando muitos já tinham perdido a vida.
O autor também conta como os tentáculos da ditadura brasileira ultrapassavam as fronteiras e alcançavam suas vítimas: brasileiros exilados que já estavam trabalhando e constituindo família no exterior eram atraídos por traidores a serviço da repressão, e caiam em emboscadas onde perdiam a vida.
“Onde vocês enterraram Nossos Mortos?” é muito mais do que me cabe aqui escrever. Recomendo a leitura a todos que se interessam por aquele período da historia do pais.
(Palmar, Aluízio – Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? - 3ª Edição, Curitiba, Travessa dos Editores, 2007. A capa é de Simon Louis Ducroquest, a partir de uma foto de Diego Singh, e o projeto gráfico é de Paulo Sandrini).
* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.
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