A
verdadeira natureza do tempo
A
velocidade da luz – de 300 mil quilômetros por segundo – pode
variar (e varia), mas o tempo não. Ele é imutável. Certo? Errado!
Durante muitos e muitos anos se pensou dessa maneira, até que Albert
Einstein demonstrou, com sua teoria da relatividade, que todos
estavam redondamente enganados. Provou, entre tantas outras coisas,
que o tempo não é constante e que também varia. E, com isso,
revolucionou a Física. Stephen Hawking foi mais longe. Não apenas
comprovou os postulados de Einstein, como trouxe à baila outros
tantos conceitos científicos que hoje são praticamente consensuais.
Mas... vamos por partes.
Em
junho de 1988, Stephen Hawking lançou seu primeiro livro (depois
dele, viria mais de uma dezena deles, três dos quais em parceria com
Leonard Mlodinow e dois outros com Roger Penrose e Alan Lightman). O
título? “Uma breve história do tempo – do Big-Bang aos Buracos
Negros”. Foi nessa obra instigante que demarcou os limites dos
temas que foram e são objetos de suas investigações (e
especulações) até hoje e que detalhou nos trabalhos subsequentes.
O
próprio autor explicou, logo na introdução, o método que utilizou
na redação do texto: “As ideias
básicas sobre a origem e o destino do universo podem ser
consideradas sem o uso da matemática, de maneira que as pessoas sem
formação científica possam compreendê-las”. Hawking agiu assim
a pedido do editor, Peter Guzzardi. Não utilizou fórmulas e
equações complexas, inteligíveis, apenas, por quem é do ramo
(que, convenhamos, não são tantos assim) e, mesmo eles...
Quem
lida com Física sabe que este é um enorme desafio. Essa disciplina
está indissociavelmente ligada à Matemática. O livro de Hawking é
muito bem escrito, com ordem, método e, sobretudo, didática, como
se fora magnífica aula (e é mesmo), não fora o autor o excelente
professor que foi
de uma das mais prestigiosas universidades do mundo, a de Cambridge.
Claro que nem todos irão compreender o que foi exposto. Não se
pode, por exemplo, falar da “Teoria da Relatividade”, de Albert
Einstein, a uma criança, que não conheça sequer os princípios
elementares, o “abc” da Física. Todavia, um leitor com
conhecimento mediano, desde que leia o livro com método e
concentração, da primeira à última página, terá visão
magnífica de um mundo fascinante e misterioso que sequer imaginava
que existisse,
Como
afirmei, Stephen Hawking não utilizou fórmulas matemáticas na
exposição de suas ideias
sobre a visão da ciência da formação do universo, da natureza das
leis que o regem e das forças que o movem. Há, apenas, uma e uma
única exceção. E não poderia ser diferente. Mas a fórmula que
mencionou é conhecidíssima demais e até os que desconhecem seu
significado (a imensa maioria das pessoas, é claro) já ouviram
falar dela ou a viram escrita em algum lugar. Qual é? Trata-se do
celebérrimo enunciado elementar de Einstein: E = mc2. Com ele, o pai
da teoria da relatividade explicou o comportamento do mundo físico,
deflagrando uma revolução na ciência do século XX e dando origem
à era nuclear, cujas consequências
estão, ainda, por ser avaliadas.
Todavia,
mesmo a célebre fórmula foi
utilizada por Stephen Hawking apenas com finalidades ilustrativas.
Usou-a, só, para demonstrar que no universo “não há interações
instantâneas”. Antes de Einstein formular sua célebre proposição,
acreditava-se, por exemplo, que o tempo despendido pela corrente
elétrica, para percorrer um fio metálico, era zero. Todavia, ficou
comprovado (e demonstrado) que, embora infinitamente pequeno, ele
“existe”. Difere, portanto, de zero. Dessa descoberta, que ao
leigo soa banal, decorreu toda a cosmologia contemporânea.
Como
afirmei no início, antigamente havia crença generalizada nos meios
científicos de que até a velocidade da luz poderia variar, mas o
tempo não mudava. Stephen Hawking afirma a esse propósito em seu
livro: “A Teoria da Relatividade sela o fim do tempo absoluto”.
Aliás, “Uma breve história do tempo – do Big-Bang aos buracos
negros” gira, de uma forma ou de outra, da primeira à última
página, em torno desse conceito.
Hoje
sabe-se que, quando o homem olha para o céu, em uma noite clara e
estrelada, está, na verdade, vendo a história do universo. Não o
seu presente, mas seu remoto (remotíssimo) passado. Muitas das
estrelas cuja luz vislumbramos hoje já não existem há milhões,
quiçá bilhões de anos. Estão tão distantes de nós que só agora
vemos seu reflexo. Outras tantas, que acabam de nascer, serão vistas
por aqui (se ainda houver pessoas para tal), em milhões ou bilhões
de anos. Fascinante, não é mesmo?!
O
nosso Sol, por exemplo, que nos parece tão próximo, está, de fato,
a oito minutos-luz da Terra. E não se esqueçam que a velocidade da
luz é de 300 mil quilômetros por segundo. Trocando em miúdos, cada
raio solar, que aquece e ilumina nosso planeta neste instante, é o
que foi emitido há oito minutos. Portanto, sua emissão ocorreu no
passado, embora produza efeitos no presente.
A
parte mais excitante do livro de Stephen Hawking, todavia, é a que
se refere a um misterioso e aterrador fenômeno celeste, até então
desconhecido ou não comprovado: os buracos negros. Registre-se que
sua existência ainda é contestada em muitos círculos científicos.
Todavia, praticamente todos os dias, astrônomos registram evidências
de que eles de fato existem e em grande profusão universo afora. A
nossa galáxia, Via Láctea, teria, por exemplo, um enorme, bem no
seu centro, sugando para o seu interior, e triturando, estrelas e
mais estrelas, muitas com os respectivos planetas, aliás,
constelações inteiras, além de gases e de poeira estelar.
E
o que seriam (ou são) os tais buracos negros? Seriam uma
concentração tão densa de matéria, com uma gravidade tão
poderosa e inflexível, que atrairia todos os corpos ao seu redor.
Nem mesmo a luz escaparia deles, daí a dificuldade de serem
localizados. Tudo, absolutamente tudo o que esteja nas suas
proximidades ou apenas cercanias seria imediatamente “devorado”
por estes sorvedouros descomunais e inflexíveis. Voltarei,
certamente, a tratar deste e de outros livros de Stephen Hawking.
Boa
leitura!
O
Editor.
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