quarta-feira, 9 de março de 2011




Por favor, tentem dar explicações

* Por Mara Narciso

A jovem senhora decidiu levar a gravidez até o fim, mesmo após o ultrassom morfológico dar alterações fetais graves, incompatíveis com a vida fora do útero. A avó falava nisso e cada narrativa vinha molhada de um choro muito sofrido. Os exames posteriores confirmaram o achado: as deformações da menina eram tamanhas, com parte de órgãos fora do corpo, que morreria ao nascer. Mãe e demais parentes, olhavam aquela barriga desolados, pois viam que crescia inutilmente, para dar à luz a morte e não a vida.
Foram meses de dor e agonia. A grávida levava um lenço com ela, tal era a fartura de lágrimas. Fazia o pré-natal com espírito fatalista, lembrando um condenado no corredor da morte. O desamparo da ex-futura mãe – era assim que se sentia –, deixava a todos angustiados. Os crédulos rezavam e acreditavam numa mágica, enquanto os descontentes questionavam as intenções divinas. Então, chegou o dia do sofrimento acabar. Enfim, porque para a mãe foi uma gestação interminável. Por se tratar de neném monstruoso, definiu-se pela cesariana. Como seria a aparência daquela criança tão observada, tantas vezes medida e mapeada pelo ultrassom? Após cortar a pele e as demais camadas de tecido, o médico enfiou a mão enluvada pela abertura na barriga da mãe e retirou a cabeça da menina, que se apresentou absolutamente normal, por fora e por dentro.
Outra história: uma mulher sentiu uma dor forte na barriga, que persistiu e se espalhou pelas costas. O médico pediu um ultrassom que mostrou uma massa tumoral mal definida, em área do intestino. A mesma também foi vista na tomografia do abdômen. Então fizeram a colonoscopia que evidenciou uma tumoração no intestino grosso, do tamanho de um limão. O susto e o medo de portar uma doença maligna confirmaram-se pelo resultado da biópsia. O material voou para São Paulo para um exame mais acurado, a fim de determinar com maior especificidade o tipo do tumor e definir o tratamento.
Era preciso fazer a operação o mais rápido possível, para extirpar aquela que era uma ameaça. A pressa, nesse caso, é amiga de bons resultados. Tudo arranjado, desde o risco cirúrgico até o preparo intestinal, com tomada de antibióticos para esterilizar a flora intestinal, a mulher foi levada ao bloco cirúrgico. Foi feito o corte, e a área do tumor foi acessada. O cirurgião passou a mão no local estudado pelas imagens e outras confirmações, mas a massa, o tumor maligno, tinha desaparecido.
A família católica atribuiu o desaparecimento da doença a uma cura milagrosa. Tinha rezado, pedido e implorado por uma intercessão divina, com tal certeza, que ela aconteceu. Para quem esteve próximo, houve um milagre.
Último caso: um menino apresentou uma súbita perda de peso. Vinha apresentando muita urina, especialmente noturna, acompanhada de sede intensa. Teve uma noite em que ele, com dez anos, perdeu dois quilos de peso em 12 horas. Na manhã seguinte, um exame de glicemia – açúcar do sangue – confirmou o diabetes mellitus tipo 1, aquele em que há necessidade de tomar insulina imediatamente, devido ao risco de vida. No caso, uma doença auto-imune, o próprio organismo havia destruído as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina, um hormônio indispensável à vida. Foi iniciado o tratamento com doses múltiplas de insulina lenta e ultra-rápida, e medições constantes da glicemia na ponta do dedo, para ajustes diários de doses. Toda a família se mobilizou para aprender sobre a doença e ajudar na busca do difícil e indispensável controle do problema.
Era trabalhoso, mas o rapazinho, bem consciente, aprendeu tudo e colaborava. Sentia-se normal, seja em casa, seja nos esportes, seja na escola. Um dia, a sua mãe foi a uma igreja evangélica (toda a família é dessa religião), e após a pregação, o pastor, que nunca a tinha visto, saiu do altar, atravessou o salão, veio até ela e disse: “vá e diga ao seu filho, que ele não tem mais diabetes tipo 1, que está curado e não precisa mais tomar insulina.” Chegando a casa, ela contou ao filho único, de 14 anos, e ao marido, e ficaram na expectativa. No dia seguinte, mediu a glicemia na ponta do dedo, como fizera diversas vezes ao dia nos últimos anos e viu que estava normal. Mesmo assim, disse ao rapaz para tomar a insulina. Ele, em tom de protesto, falou convicto: “eu não preciso tomar insulina, mãe, eu estou curado. Eu tenho Fé! Você não tem?”
Isso foi há um ano. A sua glicemia está normal, sem insulina e sem dieta.

* Médica, jornalista e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”.

6 comentários:

  1. São acontecimentos extraordinários, que não se entende e não se explica naturalmente, admitindo-se intervenção divina. Sinceramente, não acredito!
    Como ilustração:
    "(...) Calada vigiarei meus dias.
    Quanto mais vigiados, mais curtos!
    Com que mágoa o horizonte avisto...
    aproximando e sem recurso.
    Que pena, a vida ser só isto!"
    (Cecília Meireles)

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  2. Aprendi, recentemente, a substituir a frase "se Deus quiser", por "Com fé em Deus". Desde então, mudanças significativas vêm ocorrendo em minha caminhada. O Novo testamento está repleto de referências às curas de Jesus, quando ele sempre dizia: "Tua fé te curou"! A fé é a chave para todos os mistérios.
    Abraços.

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  3. Mara, já presenciei tantos fatos misteriosos que acredito muitíssimo em curas miraculosas. Ótimo texto!Abraço!

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  4. Não tenho nenhuma Fé, e creio apenas na ciência e no que ela pode explicar. Assim, nomeiam-me agnóstica. Como os fatos mostrados não são ficcionais e sim reais, os quais eu tive a oportunidade de acompanhar até onde a Medicina pode ir, e para eles não tive explicação, vim narrá-los. Que cada um encontre em suas experiências boas e más uma resposta para esses mistérios.
    Obrigada amigos pelas manifestações.

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  5. Como disse Gilberto Gil um dia, "andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá". Inspirador o seu texto, Dra. Mara. Abraços.

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  6. Marcelo, chega a ser assustadora a capacidade de excluir qualquer desses pesadelos com a Fé.
    Muito obrigada pela passagem e comentário.

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