domingo, 5 de setembro de 2010




Memória futura

* Por Lupe Cotrim Garaude



Mesmo coberta
Brasília é uma cidade
nua. Intervalos,
espaço, o plano em que se inventa
se despojam, verticalmente
Planalto, Brasília salta
e se repete para o alto.

E comemora-se, num céu
declarado, num horizonte
preciso, como quem sabe
o que faz de si
e guarda o rosto explícito.

Em que cidade vãos
se mostram com tanto
azul, e ventos e vertentes?
Onde limites
que se correspondem, onde
lacunas que se preencham
apontando
sua vizinha evidência;
onde é que
guarda tanto sentido
em sua indiferença?

Os edifícios, nítidos
como cactus, contra uma terra
envolta em terra
se amaciam e se retomam em lago.
E o branco é mais longo
no assalto do poente,
e a técnica se arredonda
na memória da Acrópole
e pelo ser
se aconchega, nas dobras
do existente.

Nada se aglomera
ou se expulsa
nesta paisagem onde a razão
é o sensível e sua imagem.

Aqui se faz o homem:
geografia-geometria
e a história murmurando
amanhã
nas curvas da poesia.

Aqui a terra se ergue,
lapidada em seu proveito,
aqui medita
o que a pátria espera
de nós, por nós,
na nudez dos que pensam.

* Lupe Cotrim Garaude é poetisa natural de São Paulo. Poema reproduzido do livro "Brasília na Poesia Brasileira", de Joanyr de Oliveira

Um comentário:

  1. Que falta que faz esta Poeta tão grande. A cada dia mais o mundo precisa de poesia, de poetas...E Lupe Cotrim partiu tão cedo...

    ResponderExcluir