quinta-feira, 3 de dezembro de 2009




Tempo

* Por Adélia Prado

A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo.
Quero a fome.

* Poetisa

2 comentários:

  1. É essa fome que nos leva a querer sempre mais e mais da vida.
    Salve Adélia!

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  2. Há feministas idiotas que execram Adélia, sei lá por quê! Aliás, nem quero saber. Basta ler poemas como esse para se reconhecer quem tem talento, de fato.

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